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HitdaBreakz

1/11/2005

FUNK, INC: OPERÁRIOS DO GROOVE (Funk Basics # 1)




A febre dos Funk 45s teve como principal inconveniente o desviar da atenção de coleccionadores e recém chegados à cultura do Diggin' dos grandes nomes do Funk. De facto não fará grande sentido procurar somente as rodelas de vinil mais obscuras e esquecer ou deixar de lado aqueles nomes que sobreviveram às décadas e que editaram álbuns angariando reconhecimento duradouro. Que poderemos dizer de uma colecção de Funk que inclua 45s originais dos Dayton Sidewinders ou dos Soul Toronados e esqueça os momentos mais vibrantes e significantes da discografia de James Brown? Mais ainda quando à natural dificuldade de arranjar esses vinis originais acrescentamos a nossa condição geográfica, que praticamente impede o acesso aos poucos exemplares que sobreviveram desses tesouros arqueológicos do Funk.
Paralelamente à complexa teia de pequenas editoras locais que foram lançando algumas pérolas de Funk que hoje alimentam o mercado das reedições e motivam verdadeiras "bidding wars" por parte dos mais reputados coleccionadores mundiais, outra realidade se desenvolveu: a das bandas que pelo talento ou sorte conseguiram construir carreira, editar para lá do formato das sete polegadas, tocar ao vivo e, sobretudo, sobreviver às décadas. Bandas como os Meters, Mandrill, Blackbyrds, Black Heat, BT Express, Cymande ou Kool & The Gang construiram uma sólida segunda linha de invasão Funk logo atrás dos cabeças de cartaz do movimento, como James Brown, Sly Stone, Parliament, etc... A essa segunda linha devemos provavelmente a verdadeira disseminação das lições desse groove pesado, através não apenas das digressões, mas igualmente dos exemplos lançados, verdadeiras forças de inspiração para todos os que eram músicos fora das normais rotas de contratação das mais importantes editoras. É que, como as bandas que hoje adquirem carácter mítico graças aos Funk 45s que vão sendo revelados, esta segunda linha era composta por músicos modestos que tinham apenas tido um golpe de sorte para chegar até ao circuito nacional americano das editoras mais conhecidas. É a essa segunda linha que iremos por aqui dar alguma atenção, numa sugestão de construção de uma espécie de discoteca básica do Funk, com discos que, em edições originais ou reedições, ainda hoje são muito acessíveis e que por isso mesmo não levarão ninguém à falência, proporcionando real Funk com peso e medida.

Os Funk, Inc. são um desses exemplos!

Este grupo foi criado em Indianapolis quando corria o ano de 1969, pelo organista Bobby Watley que à sua volta reuniu um grupo que incluía o saxofonista tenor Eugene Barr, o guitarrista Steve Weakley, o baterista Jimmy Munford (ex-assalariado de James Brown) e o percussionista Cecil Hunt.
Através do apadrinhamento de Brother Jack McDuff, este colectivo conseguiu um contrato com a Prestige, editora especializada na receita jazz-funk da época, com muito espaço dado a outros organistas, como era o caso de Charles Earland. Bob Porter foi o responsável pela assinatura do contrato e pela orientação da carreira do grupo que nos anos seguintes gravaria cinco álbuns para a Prestige.
Talvez o facto do próprio Watley ter sido originalmente um baterista ajude a explicar o carácter profundamente rítmico dos álbuns dos Funk, Inc. Watley só adoptou o Hammond depois de ter tocado com Lonnie Smith. Fortemente apoiados num lado improvisacional mais jazzy, os Funk, Inc. criaram um som distinto que lhes permitiu tocarem extensivamente ao vivo, embora nunca lhes tenha granjeado grande sucesso. Por isso mesmo, o grupo separou-se em 1976 e só com a imposição do Acid Jazz na primeira metade dos anos 90 é que Watley decidiu voltar a arriscar, criando um novo line-up para os Funk, Inc. que chegaram mesmo a editar um novo disco em 1996, de título Urban Renewal. Outra das razões para o renascimento deste grupo deverá, concerteza, ficar a dever-se à abundância de breaks disponíveis nos seus álbuns que motivaram uma referenciação constante por parte dos produtores de Hip Hop. Não é por isso de estranhar que recentemente alguns dos músicos dos Funk, Inc. tenham surgido no álbum (já por aqui mencionado) de Connie Price & The Keystones, novo projecto de funk editado na Stones Throw/Now Again.
Estes são quatro dos cinco álbuns dos Funk, Inc. dos anos 70 que arranjaram lugar na minha colecção (falta-me o álbum Hangin' Out, de 73).


FUNK, INC. - Funk, Inc (Prestige, 1971)
Álbum do monstruoso Kool is Back, tema que encerra em si um dos breaks definitivos da história do Hip Hop (audio) e que foi samplado por meio mundo, este foi o disco responsável por alargar a influência dos Funk, Inc. para lá da sua Indianapolis natal. Grooves liderados por orgão, pesados e duros como se quer. O tema Bowlegs também começa com um break rápido a que nenhum B-Boy diria que não!


FUNK, INC. - Chicken Lickin' (Prestige, 1972)
O segundo álbum dos Funk, Inc. refinou ainda mais as fórmulas do primeiro. O Funk continuava duro e pesado, mas criaram-se espaços para uma maior sofisticação dos arranjos, que incluiram versões alternativas para temas como Runnin' Away, um original de Sly & The Family Stone. No tema título do álbum, há outro belíssimo break (audio)!


FUNK, INC. - Superfunk (Prestige, 1973)
Este é talvez o álbum mais sofisticado da carreira dos Funk, Inc., muito graças a uma aproximação de uma paisagem mais soul, certamente induzida pela presença do grande David Axelrod aos comandos da produção. A versão de I'm Going To Love You inclui, para não destoar do original, outro grande break (audio)! Há outras excelentes versões neste álbum, como é o caso de Message to The Meters, embora o original Goodbye So Long beneficie do efeito de reconhecimento instantâneo por ter sido samplado pelos Brand Nubian em Hold On.


FUNK, INC. - Priced to Sell (Prestige, 1974)
O mais "vocal" dos álbuns dos Funk, Inc. (numa tentativa de alargar o seu público), Priced to Sell foi igualmente o último, pois nesta época o som já começava a mudar para dar lugar ao disco sound. Ainda assim, este álbum, produzido de novo por David Axelrod, é um poderoso testemunho da visão deste colectivo, com grooves profundos e um sentir mais soul (com versões de temas de gente tão distinta como os Traffic ou Larry Mizell). Em God Only Knows (um original, apesar do título poder fazer pensar o contrário) há um pequeno momento de descontração rítmica (audio) acompanhado por uma guitarra bem funky (que deu origem aliás ao La menage dos grandes Black Sheep)!