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HitdaBreakz

1/12/2005

DUB : DIGS DE 2004 (PARTE I DE III)




1a fila (a contar de cima), da esquerda para a direita


ROBERT SAVAGE - The adventures of Robert Savage Vol. 1 (Paramount, 1971)
Disco estranho. A capa tem aquele que é supostamente o Robert Savage, de espada em punho, armado em São Tiago, a matar um dragão, numa cena tipicamente medieval. Todo o floreado da capa aponta nessa direcção e eu à espera de um disco com influências da música da corte, enfim, tudo menos o hard rock cheio de guitarras que saiu das colunas quando meti o disco a tocar. Mas nem é mau o disco, não é tremendamente imaginativo mas tem pormenores. Não existe é Vol. 2.


Robert Savage - Milk Run [audio]




WALI AND THE AFRO-CARAVAN - Home : Lost and Found (Solid State, 1969)
Este é bem. Uma mistura de percussão tradicional africana aliada a cânticos e a uma omnipresente flauta que tanto nos aparece em primeiro plano como bem lá ao longe, cheia de eco. Foi gravado num take e ao vivo na sala de jantar de Bill Josey (dono da Sonobeat Records, casa do Perpetuum Mobile do Mariani e do Progressive Blues Experiment do Johnny Winters, dois álbuns a procurar para os fãs dos sons mais alternativos do final dos anos 60). O álbum foi editado na Solid State, uma pequena subeditora de jazz da Liberty Records, e contém dois temas que lhe ajudam a dar o ar de holy grail que merece ter, principalmente para os fãs de afrojazz : curiosamente, ambas versões, uma do Afro Blue e outra do Hail to the King.

Wali and the Afro Caravan - Hail to the King [audio]


VA - Epitaph for a legend (International Artists, 1980)
A International Artists é uma das mais importantes editoras independentes de música dos anos 60, abraçando, principalmente, um género como o psicadelismo e tudo o que girava à volta dele. É a casa de nomes tão importantes no psicadelismo como os 13th Floor Elevators, os Red Krayola, os Lost & Found ou os Golden Dawn, todos eles responsáveis por álbuns que definem o som de São Francisco, apesar de não serem todos de São Francisco. No entanto, Lelan Rogers, irmão do Kenny "country music" Rogers (o grande amigo da Dolly Parton), tem uma ligação enorme a outros estilos musicais, já que era dono também da House of the Fox, uma editora onde foram editados discos do Eddie Bo e do Maceo & The Kings Men (informação retirada do site Funky 16 Corners). Desta forma, não se estranha a presença de Lightnin' Hopkins na compilação. O que se estranha é todo o aspecto crude naquilo que devia ser o último prego no caixão da International Artists. As gravações são agrestes, as explicações são mínimas e lamenta-se isso porque há aqui coisas que são verdadeiras raridades. E podemos começar pelas raridades : o original do "You're gonna miss me", o grande sucesso dos 13th Floor Elevators, está aqui presente, cantados pelos Spades (a primeira banda do Roky Erickson, que saiu daqui para formar os 13th Floor) e originalmente editado numa pequena editora chamada Zero em 1965. Também está o lado B do single (o We sell soul) mas uma explicação aos ouvintes não lhes ficava mal. Temos também spots de rádio (o do Bull of the Woods, o segundo álbum dos 13th Floor Elevators, por exemplo) e temos uma enorme entrevista na contracapa deste álbum duplo ao big kahuna da label, o Lelan Rogers, onde ficamos com uma melhor percepção do que era lidar com estes nomes. No entanto, não se sabe onde foi feita a entrevista e acaba extemporâneamente com um "End of tape". Comprasses outra, não? Seja como for, a compilação é um enorme e desconexo exemplo de muitas raridades e demos da International Artists, onde se contam os já referidos grupos grandes como os 13th Floor, os Red Krayola, os Lost & Found e os Golden Dawn, mas também o Lightnin' Hopkins, Dave Allen, os Endle St. Cloud (grande tema este) e temas não editados de bandas desconhecidas (quase um pleonasmo mas não é) como os Chapparrals ou os Chaynes. Ah, e dois temas belíssimos, acústicos, creditados ao Roky Erickson e a C. Hall. Só isto, Roky e C. Hall. Vamos longe assim, não vamos?

The Spades - You're gonna miss me [audio]




THE WALNUT BAND - Go nuts (Appaloosa Records, 1976)
Quando arranjei este disco, não sabia nada sobre ele (continuo a não saber muito mas...) e faço o que costumo fazer : Google com o nome da banda e título do álbum. "É um disco de rock tipo Grateful Dead", dizia o Google, no único hit que consegui obter. O mistério adensa-se quando vejo numa lista qualquer que este disco valia dinheiro, muito dinheiro (à volta de 40 contos). Eu não sei porquê mas era o que dizia a lista. É que musicalmente tem vários pontos de interesse, principalmente com a presença do ARP, mas é um disco de época, sem grande sentido hoje, para além do interesse revisionista que o disco pode oferecer. No entanto, eu gosto dele. Ouve-se muito bem e tem constantes progressões dentro de cada música, jams verdadeiras, que mantêm o interesse sobre o que virá a seguir ou que volta é que o tema vai levar.

The Walnut Band - Diesel Motors [audio]




THE EXKURSIONS - The Exkursions (prensagem privada, 1971)
Blues, rock, guitarras com fuzz e mensagens típicas do rock cristão (ou christian rock ou xian rock, como queiram) num álbum que foi bem difícil de arranjar e que queria muito ter. Arranjei esta cópia fechada mas espanta-me sempre quando encontro cópias fechadas de discos com 30 anos. E até é um risco comprar discos fechados, prefiro comprar discos em óptimo estado mas abertos do que cópias fechadas. É que, apesar de valerem mais fechadas, prefiro saber que o disco está inteiro. Quantas e quantas vezes não se abriu um disco com 30 anos e está partido ou rachado lá dentro. São 30 anos em cima, não é brincadeira.

The Exkursions - Dry Ground [audio]



3a fila a contar de cima (ou de baixo...), da esquerda para a direita




B.W.H. - Livin' Up / Stop (Baby Records, 1983)
Que dizer? Foi dos achados do ano. Dos temas mais bonitos de italo que alguma vez irão ouvir, esta linha de baixo é irrepetível. E dá um toque genial à coisa o facto de a seguir entrar uma melodia de piano (que vocês não irão ouvir... 250ks só dá para tanto), para além de todo o mistério sobre o que é que a rapariga diz (continua ainda hoje a discussão). Foi alvo recentemente de uma reedição pela Radian Records, contando com remisturas (bem boas, por sinal) de Bangkok Impact e de Putsch '79, acelerando os originais (que também estão presentes) para valores de batidas por minuto mais consentâneos com as pistas de dança de hoje. Já o Midnight Mike tinha feito um reedit para a compilação do Ivan Smagghe, a Death Disco e que, na altura em que saiu, foi recebida com aplausos por quem desconhecia o tema mas com muitas críticas por quem já o conhecia. É que desfiguraram o tema todo. Enfim. Se não quiserem dar os 20-30 contos que o original custa e não quiserem ter uma reedição, andem atentos nas lojas cá em Portugal de 2a mão, eles aparecem. É só uma questão de diggin'.

B.W.H. - Stop [audio]




THE CROME SYRCUS - Love Cycle (Command, 1968)
Disco editado na Command do Enoch Light é sempre motivo de interesse. O Enoch Light é daqueles produtores do qual se pode sempre esperar coisas boas. Mas nunca um álbum psicadélico, coisa rara na Command. Os Crome Syrcus são uma banda de rock psicadélico mais conhecida por terem musicado o primeiro ballet de rock psicadélico (para o Ballet de Robert Joffrey) do que propriamente por este álbum. Mas este álbum é que foi a minha porta de entrada para o universo dos Crome Syrcus, só sabendo do Ballet depois de os conhecer. A capa deste disco é, em si mesma, uma obra de arte e merecia estar numa moldura num museu. Quanto à música, já não tanto. É um belo disco de rock psicadélico, principalmente a enorme faixa título (que ocupa todo o lado B do disco), tem um tocador de flauta para quem a flauta não deve ter segredos, mas tenho um pequeno problema com o álbum. Tem momentos demasiado pop da sunny California para ser puro psicadelismo ou sequer pop psych. Pop psych que se queira chamar pop psych tem de ser, no mínimo (e que mínimo!), os Aorta ou as coisas do Curt Boeccher.

Crome Syrcus - Love Cycle [audio]




BABY HUEY - The Baby Huey Legend (Curtom, 1971)
Nascido James Thomas Ramey, Baby Huey tinha tudo menos um físico de bebé. Era uma imponente figura de 160 kilos espalhados por 1m85 de corpo mas não parecia ter problemas em o mexer ao som do funk que ele e a banda dele (mas há melhor nome para esta banda que Babysitters?) tocavam nos palcos de Chicago. Foi numa dessas actuações que um ainda jovem Donny Hathaway, então A&R para a label do Curtis Mayfield (a Curtom, uma subeditora da Buddah), atraído pelas constantes "tens de ir ver estes tipos!" que ouvia de outras pessoas, os ouviu e ficou louco com eles. O próprio Curtis Mayfield veio no dia a seguir para os ouvir e... assinou-os logo. O disco é bom, muito bom. Tem dois breaks de hiphop conhecidíssimos (o que é muito para um disco de soul) que são o "Hard Times" e o "Listen to Me", ambos standards do hiphop, daqueles temas de que o hiphop se apropriou desde o dia um. Mas nem é por aí que o disco se fica. Decidi, em vez do habitual "Hard Times", tirar o sample de som para vocês ouvirem do "A change is gonna come", versão do Baby Huey para um original do Sam Cooke (e que original! é assim que se deve cantar a soul ). A parte triste disto tudo foi que Baby Huey não viu aquilo que seria o seu primeiro álbum editado, falecendo antes, e isso está plasmado no disco, que, na parte de trás, tem um recorte de jornal a dar conhecimento da morte de Baby Huey e uma carta de despedida do manager dele.

Baby Huey - A change is gonna come [audio]




LOTHAR AND THE HAND PEOPLE - Presenting... (Capitol, 1968)
Disco a fugir para o pouco convencional (e enorme por isso), com misturas de moog, theremin (o Lothar... dar nome ao theremin é sempre bem e considerá-lo o líder da banda ainda maior é), efeitos à direita e à esquerda, sons dentro e fora de tempo. Parece mau, não parece? Não é, é excelente. Só de pensar que estes meninos faziam estas coisas em 1968 dá muito que pensar sobre todo o génio que estes 5 rapazitos tinham. Claro que ajuda ter como produtor o Robert Marguleff (dos Tonto's Expanding Headband e um dos suportes da carreira do Stevie Wonder) mas não basta. O outro álbum deles, o Space Hymn (Capitol, 1969), transporta o som dos Lothar and the hand people para um patamar superior (principalmente o tema título... que é tão fora tão fora que o vocalista, a meio do tema, tenta hipnotisar quem o está a ouvir) mas este Presenting... Lothar and the Hand People, apesar de ser mais directo que o Space Hymn, não deixa de ser um monumento à experimentação sonora que se fazia nos anos 60.

Lothar and the Hand People - It comes on anyhow [audio]




JOE HARRIOTT QUINTET - Abstract (Capitol, 1961)
Uma das figuras lendárias da cena bop e hard bop inglesa, ao lado de nomes como Tubby Hayes e Ronnie Scott, Joe Harriott é, no entanto, reconhecido como uma das principais figuras do início daquilo a que convencionámos chamar free jazz. E fê-lo com dois álbuns, o Free Form e o Abstract, ambos discos que devem procurar e ouvir com muita atenção. A genialidade de Joe Harriott vem do facto de explorar a linguagem do free jazz sem nunca ter ouvido uma única nota tocada por Ornette Coleman, de quem é contemporâneo. Ou seja, dos dois lados do oceano, um e outro estavam, ao mesmo tempo a descobrir esta nova linguagem do jazz. No entanto, é a Ornette Coleman que se dá os louros pela invenção do free jazz. Sem problemas, não deixa é de haver estes dois discos, o Free Form e o Abstract como testemunhos dessa coincidência. O Ken Vandermark ficou tão impressionado com estes dois discos que decidiu fazer, em 1999 na Atavistic, as suas próprias versões para os temas do Joe Harriott. Quatro desses temas (Tonal, Shadows, Idioms e Pictures - belíssimo o Pictures!) são do Abstract. Outro disco que vale a pena do Joe Harriott é o duplo quinteto com o John Mayer, o Indo Jazz Fusions. Uma mistura de jazz com sitars, tablas e flautas, referências incontornáveis da música tradicional indiana.

Eu não tenho o Free Form, que é anterior ao Abstract, porque sempre que o encontrei, pediram-me mais dinheiro do que eu alguma vez tive junto numa só carteira. Este, apesar de nas lojas ser mais barato que o Free Form, não deixa de ser um disco caro (quando aparece, porque o problema é mesmo esse, não aparece). Mas a sorte protege os audazes e este disco veio fazer companhia aos outros bem bem baratinho. Foi sorte.

The Joe Harriott Quintet - Shadows [audio]


NOTA : As partes 2 e 3 irão incluir as restantes filas (a 2a, a 4a e a 5a).