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HitdaBreakz

11/25/2004

SEVILLA REPORT


Regressado de um retemperante repouso em Sevilha, deu para, novamente, reparar naquilo que nos separa e nos aproxima de nuestros hermanos. Sai de Coimbra com destino a Sevilha para, na companhia de um amigo que lá ia trabalhar, ir (re)conhecer a cidade, já que já lá tinha estado numa excursão de diggin' com o Digga. O engraçado foi que isto do diggin' ocupa tanto tanto tempo que acabámos por não conhecer muito da cidade. Vimos os pratos principais da cidade mas não vimos nem as entradas nem a sobremesa e, digga, há muito mais para ver do que aquilo que nós vimos. Na companhia de um amigo português a trabalhar em Sevilha, o Gonçalo, dono de uma loja de discos, andámos pelas calles mais a saborear a cidade do que propriamente à procura de discos. Andei pelas lojas que eu e o Digga tinhamos estado (e limpo!) da vez que fomos a Sevilha e é com tristeza que afirmo que os mesmos discos que vi da outra vez continuam lá à espera de serem comprados. E, infelizmente, ao mesmo preço (elevado!). Foi pena porque eu e o Digga tivémos uma daquelas histórias dignas de Tales of the diggin' crypt, que tenho a certeza que contarei brevemente, nessa viagem a Sevilha. Mas, não, não há discos em Sevilha. Encontrei um Billy Preston mas 15 euros não é preço que me interesse pagar por um Billy Preston. Encontrei um Easter Everywhere dos 13th floor elevators mas 180 euros é um roubo pelo disco (já não tanto pela música) - e dizer "encontrei um disco de 180 euros" é, em si, uma redundância... um disco de 180 euros é que te encontra a ti, está exposto na parede à espera de um pato que dê o exagero que pedem por ele. Encontrei também imensos discos de rock dos anos 80, coisas que não conhecia e que, pela capa xaroposa, fiquei feliz de não conhecer. Mas, e isto é uma regra silente do diggin', "nunca julgues um disco pela capa" (gente ligada aos livros é que se aproveitou da frase depois e a transformou em "nunca julgues um livro pela capa" mas todos sabemos que a frase original é relativa à música) por isso provavelmente estaria ali algum futuro holy grail que eu, na minha pequenez, não fui capaz de descortinar. Os preços, esses, eram elevados para aquilo que me apetecia pagar por coisas completamente desconhecidas e que teria de ouvir antes para apreciar da sua validade, quer como peças de colecção quer como material de sample. Conclusão: 0 discos comprados.

O que podia parecer um mau sinal (0 discos comprados), acabou por ser positivo noutro aspecto. Fiquei feliz por tomar contacto com outra realidade musical. Em Espanha, o hiphop local (tal como em Portugal) está com muita força. Nos dias em que estive em Sevilha, tinha havido um megafestival chamado Break Nation, que ia já na sua 5a edição. Este ano, de certeza por vontade das massas, houve, pela primeira vez um palco apenas dedicado a música hiphop, com a participação apenas de grupos nacionais, tais como os Violadores del Verso, os Tote King (muito bem referenciados por um novo amigo meu que tocou nesse festival, Manolo, ou, como é conhecido em Sevilha, o DJ Man, um enorme vulcão de força positiva com 37 anos e um poço sem fundo de informação musical), Junaninacka, Dogma Crew ou Triple XXX. Para além disso, existem exibições de graffiti ao longo de todo o complexo e, segundo me contou o Manolo, o palco esteve sempre sempre cheio. Disse-me o Manolo que os Tote King actuaram como os Jurassic 5 actuam: dois djs e três MCs. A dada altura, os djs dos Tote King andaram numa de "falar e responder": um dizia algo nos pratos e o outro respondia nos outros. "Fantastico, muy muy bueno". Gracias, Manolo, fiquei curioso em relação a esses Tote King. Não faço a menor ideia ao que soam mas ficam aqui os nomes para eu e vocês partirmos à descoberta do hiphop que se faz aqui mesmo ao lado. Lembro-me de um Nação Hiphop, na Antena 3, onde o Digga, acabadinho de chegar do Sonar, passou imenso hiphop espanhol, discos que tinha arranjado por lá. Foi interessante ouvir e deu para perceber que há muita coisa boa no ar e que muito do que lá se faz tem qualidade. Mas não é só nos festivais que se vê a força do hiphop. Disse-me o Gonçalo que existe toda uma cultura ligada à volta do fenómeno e que é extremamente nacionalista nos gostos: o que é nacional é bom. É um público muito jovem e que adere ao hiphop de uma forma muito muito sincera, por vezes ingénua (principalmente na vertente nacionalista), mas sempre com amor à causa e de forma militante. Pululam lojas manifestamente coladas ao hiphop, onde se divide a casa em roupa e CDs e em aerosois para graffitis, numa verdadeira acepção do hiphop como cultura e não apenas e só como género musical.

Quanto ao resto, Sevilha tem uma cena nocturna muito intensa. Nisso, o nosso cícerone foi inexcedível, mostrando-nos os sítios mais engraçados da cidade (e são tantos!). Ficou na retina o Suite, bar de excelente qualidade, com uma decoração muito cuidada, com primazia para os brancos e para os vermelhos-sangue. Achei o bar muito muito bem frequentado e gostei muito de lá estar. Recomendo vivamente a vossa ida lá. Outro sítio que gostei muito de conhecer foi o Tab.00 (diz-se Taboo mas escreve-se Tab ponto zero zero, por razões de copyright do nome Taboo por outros). Com uma abordagem muito ligada à música de dança, perfeitamente patente na grande pista de dança, o bar (porque é um bar) é, provavelmente, o centro da movida mais alternativa de Sevilha. A sua decoração retro, as luzes no chão da pista, os sofás e as enormes luzes verdes e vermelhas que preenchem toda a parede ao lado da pista de dança tornam o Tab.00 um bar bastante original e consegue, sem ser demasiado fashion, aquele equilíbrio entre o que está na moda e o que está fora (ou o que ainda está para ser moda). E isso nota-se muito nas escolhas dos djs que lá vão meter música: desde o fashion electro até ao tão out-of-fashion hardhouse, todos têm lugar no Tab.00, dependendo de quem comanda as cabines. Por último, aos mais resistentes, recomendo-vos o Sasha (outro endereço que o Gonçalo vai ter de me dar e que vou colocar aqui), que tem um after-hours bem divertido aos domingos à noite, onde toca um dos mais conceituados djs sevilhanos, Luis Yanguas (e merecidamente, já que tem um som muito actual, muito a par do que melhor se faz na música de dança). Resta referir que quer o Gonçalo quer o Luis Yanguas tocam no Tab.00 e no Sasha.

Ficam aqui alguns endereços das melhores coisas de Sevilha:

Lojas de discos

Existem duas lojas de discos de vinil perfeitas para o diggin':

Uma é a Latimore Discos (Javier Lasso de la Vega, no. 4), que está aberta das 10:00 às 14:00 e das 17:00 às 21:00. Tem uma selecção muito grande de discos de qualquer estilo (desde o rock progressivo ao funk ao rock psicadélico ao punk ao AOR ao house ao...) o que faz com que passes muito tempo a ver os discos na esperança de encontrar alguma pérola perdida. Tem também uma aceitável colecção de tshirts e de pins mas é o vinil o coração da loja.

Outra loja óptima para o diggin' não fiquei com o nome mas é extremamente fácil de dar com ela. Sei que a loja é na Amor de Dios, muito perto da Latimore Discos. A Amor de Dios foi uma rua onde passei muitas vezes, não faço ideia da importância dela para os sevilhanos, mas que eu passei lá n vezes, passei. De ambas as vezes que lá fui, isso aconteceu, por isso julgo que não será muito difícil de encontrarem.

Para quem gosta de sons mais actuais, existem quatro lojas que recomendo:

A Alternative Shop (Calle Santa Ana, 24), que é a loja do Gonçalo, onde podem encontrar todas as novidades do electrohouse, do tech-house e variantes, onde editoras como a Playhouse ou a Kompakt são sempre bem tratadas. De referir que a loja do Gonçalo, como em tantas lojas de Sevilha (e cada vez mais também em Lisboa e no Porto), divide o seu espaço com uma peluqueria (ou cabeleireiro), a peluqueria de Alberto Vergara.

Semelhante ao conceito da Alternative Shop, o Espacio Publico são três lojas numa: uma loja de tatuagens e piercings, uma loja de roupa e uma loja de vinis dividem as mesmas quatro paredes. Esta loja está na Amor de Dios, 36, um bocado mais à frente da loja que vos falei atrás, óptima para diggin'.

A Boogaloop Records é aquilo que eu chamo uma loja de disco com som Gilles Peterson. Soul, funk, dancefloor jazz, Latin Funk, Boogaloo, Reggae, Rocksteady, House, Electrofunk, Hiphop, Broken beat e drum n' bass têm lugares separados nos escaparates e são eles os distribuidores exclusivos de editoras tão importantes para nós aqui no hitdabreakz como a Daptone, a Jazzman Records, a Licorice Soul, a Vampi Soul ou a Fryers Records. Podem encontrar esta loja em Regina, 13/A.

Por último, a Suburban, uma loja de hiphop. A tal loja onde os 4 elementos podem convergir num só espaço: roupa, graffiti, música. Está na Trajano, 44. É perto da Amor de Dios, se me lembro bem.

Bares e discotecas

Suite - mal tenha o endereço, coloco-o aqui.

Tab.00 - podem encontrar o Tab.00 na Calle Trastamara, que é paralela à marginal de Sevilha. Vão pelo Paseo Cristobal Colon e viram à direita noutra das principais ruas de Sevilha, a Reyes Católicos. A Calle Trastamara é a primeira rua à vossa esquerda e o Tab.00 é lá mais à frente da rua. Vão antes das 4 porque depois disso ninguém entra.

Sasha - outro endereço que irei colocar.