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HitdaBreakz

11/03/2004

MOHAWKS - THE CHAMP




Há uns anos, quando uma série de experiências (a paixão pela música e pelo coleccionismo, a curiosidade em relação aos originais samplados por alguns clássicos do Hip Hop) se combinaram numa actividade constante a que já se poderia chamar Diggin', uma das primeiras referências que li foi aos Mohawks. Mesmo antes de ter ouvido a sua principal criação, The Champ ( e mal sabia eu que já a tinha ouvido tantas vezes), deu imediatamente para perceber que a editora de James Lavelle, a Mo'Wax, devia-lhes o nome. Posteriormente, a audição do single The Champ (que arranjei antes do álbum) confirmou as minhas suspeitas: Lavelle certamente que pretendeu homenagear estes mestres originais do breakbeat ao criar o jogo de palavras e imagens que o nome da sua editora sugere (Wax sendo uma designação comum também para vinil...). Os primeiros pedaços de informação que recolhi não me entusiasmaram muito: aparentemente os Mohawks eram um obscuro grupo jamaicano que, na velha tradição rocksteady, tinham conseguido registar um sucesso sob a forma de um instrumental (como já havia acontecido a Harry J com The Liquidator). Algures entre 94 e 95 surgiu finalmente um limitadissimo bootleg do álbum (falava-se, e ainda se fala, em apenas 1000 cópias prensadas) que só me confundiu mais pois as liner notes (este bootleg é um facsimile do original) mencionavam um tal Morris Hawk, um músico solitário, que conduzia um Jaguar E-Type de 1968, que havia reunido um grupo de primeira para gravar The Champ.
Só anos mais tarde, quando a Internet e uma rede internacional de coleccionadores começaram a trocar informação e a preencher uma série de lacunas é que deu para perceber que afinal os Mohawks eram a criação de Alan Hawkshaw, reputado organista inglês e um dos mestres da Library Music, que gravou imenso para a KPM, uma das mais destacadas editoras dessa área. Aliás, algumas das faixas do álbum, incluindo Senor Thump e Beat Me Til I'm Blue foram mesmo licenciadas de sessões originalmente registadas para a KPM.
Hawkshaw fez carreira essencialmente como músico de estúdio e sessão, tendo fugazmente acompanhado os Shadows ao vivo algures em 68 (são desta época as gravações). O facto de Brian Bennett - outro grande nome do universo da Library Music - ser baterista dos Shadows nesta época deve ter ajudado a que Hawkshaw conseguisse o emprego. Como qualquer outro músico de sessão, Hawkshaw gravou bastante, contribuindo com as malhas do seu Hammond B3 para discos de gente tão diferente quanto Serge Gainsbourg e Olivia Newton John. Foi no entanto o seu trabalho para KPM que lhe garantiu a imortalidade.
Nós aqui no Hit da Breakz temos andado a adiar a abordagem à Library Music, por ser um trabalho tão vasto, mas fica já prometido para breve um post bem ilustrado (audio e visualmente) sobre a KPM. O resto seguir-se-à naturalmente!
Voltando aos Mohawks, há uma nova reedição datada de 2002 ou 2003 que ao alinhamento original acrescenta um par de temas de origem duvidosa (qualidade de som muito inferior ao resto do material). Por isso mesmo não há.de ser difícil arranjar este disco. A raridade do original do LP The Champ dos Mohawks é tal aliás que mesmo o bootleg de meados dos anos 90 já vale algum dinheiro (vi-o a ser vendido no ebay por 60 e 70 dólares...). O original, claro, não deve ter preço.
Musicalmente falando, o álbum é típico Library Funk: uma série de músicos fechados em estúdio, criam primeiro um conceito e depois atiram-se a uma série de jams para ver o que dá. O conceito, claro, era cruzar o groove do funk com um tom levemente rocksteady, inspirado em instrumentais jamaicanos como o já citado Liquidator. Acontece que nunca na Jamaica se gravou com tão bom som, com as baterias tão proeminentes e com os baixos tão cristalinos. The Champ é, agora já o sei, uma típica criação de Library Funk, com uma série de músicos brancos a levarem o seu conhecimento de R&B e os seus estudos das lições de James Brown até ao limite possivel em estúdio. O resultado é obviamente brilhante!
Quando o single de The Champ foi editado obteve um considerável sucesso em alguns países, incluindo a França. O que justifica que seja relativamente fácil arranjar o single francês (que é o que eu tenho, com a capa avermelhada, e que já vi algumas vezes à venda em lojas online, embora nunca muito barato). O meu chegou até à minha posse quando o balcão da Lollipop no Bairro Alto servia, bem mais do que para vender, para comprar novas peças para a colecção.
E pronto, ficam aqui as provas áudio de que este é mesmo um disco essencial na história do diggin'. Deliciem-se!

Mohawks - The Champ
Mohawks - bonus # 1
Mohawks - bonus # 2
Mohawks - bonus # 3