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EBONY RHYTHM BAND - NOW AGAIN!

O digging levado às últimas consequências tem efeitos espantosos. É o caso dos Ebony Rhythm Band e da edição de The Lamp Sessions na interessante Now Again, subsidiária da Stones Throw. Egon - emérito coleccionador de funk, colaborador da já extinta revista Big Daddy, colunista na Wax Poetics e compilador de excepção a quem se deve a grande antologia The Funky 16 Corners (além de produtor com a edição de um interessante Curse of the Evil Badger) - terá descoberto um dia o single da Ebony Rhythm Band na há muito desaparecida Lamp Records de Indianapolis. Tempos houve nos Estados Unidos em que isso teria sido suficiente para qualquer coleccionador. Mas há medida que a cultura dos Funk 45s se espalhou, encontrar singles raros deixou de ser suficiente. Para muitos coleccionadores - como Egon ou "Jazzman" Gerald do Reino Unido, por exemplo - encontrar o single passou a ser apenas o início da aventura.

Um estudo atento da pouca informação disponível nas etiquetas levava-os depois a outro tipo de investigação: cruzando os nomes dos autores das músicas com os dados geográficos (localização do estúdio ou da editora, por exemplo), dava-se início a uma longa procura através das listas telefónicas do estado em questão, sempre com a mesma pergunta de cada vez que alguém atendia o telefone - "desculpe, o senhor Johnson tocou numa banda de funk no final dos anos 60?". Um "sim" equivalia, geralmente, à descoberta de um filão de ouro. Depois de localizados alguns dos intervenientes originais nestes singles, estes coleccionadores viajavam até ao seu encontro para os entrevistarem e para procurarem saber se os seus obscuros grupos teriam editado mais do que o single que tinha dado origem a todo aquele processo. Nalgumas das vezes, Egon, Gerald e outros coleccionadores da mesma estatura vieram mesmo a descobrir que na cave, na garagem ou no sotão de um desses músicos se encontravam fitas de uma sessão gravada, mas nunca editada após o primeiro single se ter mostrado incapaz de vender até os 500 exemplares que haviam sido impressos. Estou a falar de grupos que no final dos anos 60 tocavam em clubes e que até chegavam a gravar um par de sessões, mas que nunca conseguiram distribuição para lá das fronteiras da sua cidade. Diggers dedicados têm, na última década, reconstruído o mapa esquecido dos passos dessa geração, antes da indústria discográfica se ter tornado a força global e globalizante que permite que quem canta em Nova Iorque, Boston ou Los Angeles seja ouvido no resto do mundo.

As Lamp Sessions dos Ebony Rhythm Band são o final feliz de uma destas histórias. Após terem gravado e editado Soul Heart Transplant, transformando a notícia do primeiro transplante de coração bem sucedido em Indianapolis (1969) num epantoso número de funk, o grupo foi caindo no esquecimento à medida que o seu trabalho de sessão para a Lamp Records de Herb Miller ia provando não ser capaz de os conduzir ao sucesso. Para este grupo, inspirado nos Meters e James Brown, mas também no rock de Jimi Hendrix ou do Spencer Davis Group (a quem "roubaram" o clássico I'm a Man para o transformarem em Drugs Ain't Cool) a história provou que haveria uma segunda oportunidade, como a presente edição na Now Again prova.

Soul Heart Transplant: The Lamp Sessions é um potentíssimo duplo álbum, carregado de breaks de bateria, grandes linhas de baixo, um toque de "acidez" nas guitarras e um groove constante que atravessa todos os temas. O suficiente para fazer deste álbum um dos lançamentos do ano, mesmo que as gravações originais tenham 35 anos! Este álbum duplo (em vinil, claro) sucede à reedição do single Soul Heart Transplant (em sete e doze polegadas) na Now Again de Egon (etiqueta que recebeu a reedição dos Stark Reality, por exemplo) e é um verdadeiro "labour of love", com liner notes extensas e detalhadas que permitem, três décadas e meia depois, reconstruir os passos da Ebony Rhythm Band!