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HitdaBreakz

10/11/2004

OH SIM... ROBOTNICK




Maurizio Dami não fazia a menor ideia da importância que tinha para a música de dança actual. "Foi apenas em 1995, quando comecei a usar a Internet, que me apercebi do impacto que aquela faixa teve. Antes disso, não fazia a menor ideia.", disse Dami a Benedetta Skrufff. Mas mais vale tarde que nunca e numa vida em que é tão normal reconhecermos o mérito apenas após a morte, esta descoberta de que "aquela" faixa teve o impacto que teve, provocou o regresso de Dami a um som que conhecia tão bem, deixando para trás um passado musical, tentando singrar na world music. A faixa, essa, é a Problemes d'amour. Totalmente "cantada" em francês, não foi nem pela letra nem pelo cantor que a canção ficou conhecida. A canção ficou conhecida pelo uso dos clássicos TB303, o aparelho analógico responsável pelo chirpear das linhas de baixo ácidas, e da TR808, uma caixa de ritmos com sons secos, que adornam centenas e centenas de álbuns da época. "Eu fiz a Problemes d'amour porque alguém tinha-me sugerido escrever uma música de dança por causa do dinheiro. Ele disse-me que mesmo discos xaroposos podiam vender 10,000 unidades. Ironicamente, foi exactamente 10,000 discos que eu vendi e eu pensei que isso queria dizer que o disco era isso - xaroposo. E desisti de fazer outros."

Graças a Deus ou à vossa entidade divina preferida, a história não se ficou por aqui. Fazendo fé no seu nome de guerra Alexander Robotnick, Dami transmitia a certeza quase matemática das sequências analógicas aos temas que posteriormente produziu. Mas se fosse só isso, tinhamos apenas o acidhouse de Chicago e não o italo que o celebrizou e é italodisco que ouvimos quando ouvimos Robotnick. E é italo do melhor, longe das xaropadas que vendiam 10,000 discos, longe dos típicos acordes em piano, agora impossíveis de ouvir que posteriormente influenciaram tantos e tantos produtores de house (naquilo a que se chama... pianohouse e de que nem Fatboy Slim se livrou, enquanto Pizzaman, numa alusão culinária ao passado italiano de todo o estilo). Desde o clássico Problemes d'amour ao fabuloso tema sobre a Sílvia numa caixa de supermercado (este fica para os amantes do actual electrohouse procurarem... e se espantarem com a versão ainda deste ano de M.A.N.D.Y. desse tema) a uma interpretação livre do Love Supreme de John Coltrane (em A Love Supreme, o mais difícl de encontrar de todos os Robotnicks... e também o mais doce, podem encontrá-lo na compilação que Norman Jay fez a meias com Gilles Peterson para a série Journeys by Djs - outro JDJ a procurar é o dos Coldcut, 70 minutes of madness, exactamente como descrevem, pura loucura), Robotnick construiu, aos poucos uma discografia em que os elementos melódicos e rítmicos se entrelaçam de uma maneira única, até para o italodisco. E a atenção de Robotnick aos pormenores, a maneira como, quase inadvertidamente, consegue alterar a direcçao de um tema, quase que de um momento para o outro, faz da música de Robotnick tão actual na altura como o é hoje - talvez seja mesmo essa a singularidade que destaca Robotnick no meio de tantos outros produtores de italo.



Robotnick agora regressou aos discos de italo. Já tinha editado o Oh no... Robotnick, num dos regressos mais aguardados do ano, e editado um Dance Boy Dance estupendo e remisturado pelo deus do "commercial french touch" actual, Bob Sinclar. Mas é com este novo EP, Les grandes problemes de amour (na Hot Banana) que Robotnick, para mim, regressa mesmo. O fio condutor é italo clássico mas deixa-se entrelaçar com as novas abordagens ao italo e ao electro, que produtores como Kiko e The Hacker, seus parceiros no EP, utilizam. E um dos temas do EP fecha a compilação The Disco-Tech of... Alexander Robotnick (na Yellow, de Bob Sinclar) vem exactamente deste EP. Aliás, recomendo vivamente esta compilação já que contém três temas de italo que são dos meus favoritos: o Robot is systematic dos 'Lectric Workers (recentemente reeditado na Viewlexx, fazendo companhia a nomes importantíssimos do italo de hoje como Alden Tyrrell, F.R.E.A.K. Electrique, os I-f, responsáveis pela excelente viagem ao italo chamada Mixed up in the Hague, um set coerente do melhor que se fez no estilo nos anos 80), o Penguin Invasion dos Scotch e o Spacer Woman de Charlie. Todos estes três discos são bem bem complicados de arranjar nas suas versões originais por isso aconselho os interessados a apanharem as muitas reedições que têm aparecido dos temas, seja em compilações seja em 12" reeditado, para os que também passam música.



Para terminar, deixo dois links para duas faixas clássicas de Robotnick, que se encontram em formato mp3 (tamanhos entre os 3 e 4 MB) no site de Robotnick. Prestem atenção à primeira, principalmente, já que é a versão original do Problemes d'amour, conforme apareceu no primeiro EP de Robotnick, Ce n'est q'un debout, na agora mítica Fuzz Dance.

Alexander Robotnick - Problemes d'amour (1983) [audio]

Alexander Robotnick - Et maintenant (GMM) [audio]