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HitdaBreakz

10/29/2004

MIAMI BASS - BAIXAS VIBRAÇÕES




De todos os géneros de música que cultivam ligações mais ou menos claras ao mundo do S.E.X.O., o Miami Bass (ou Booty Music ou Bass Music, conforme lhe queiram chamar...) é o que o faz de forma mais descarada. Talvez porque o género tenha dado os primeiros passos nos clubes de strip da capital da Flórida, talvez porque o calor húmido próprio daquele Estado convide as pessoas nos clubes a largarem as roupas ou, muito simplesmente, e nas palavras imortais dos Renegade Soundwave, talvez porque as mulheres respondem às baixas freqüências...
Seja como for, é longa a ligação do Hip Hop ao “bottom end”, que é como quem diz ao espectro de freqüências mais baixas, aquelas que são menos ouvidas e mais sentidas no próprio corpo. Kool Herc, o pai fundador do Hip Hop, importou da sua Jamaica natal o hábito de construir os seus próprios sound systems, com woofers gigantes para que o “boom” da música se sentisse bem forte nos estômagos. Com essa experiência bem presente, Afrika Bambaataa – com a ajuda de Arthur Baker e de uma 808 – criou Planet Rock uma faixa que, sozinha, haveria de influenciar os clubes de house, techno, electro e, claro, os clubes de Miami.

Com muito do seu poder ligado à descoberta da Roland TR 808 (uma caixa de ritmos com um kick drum mítico...), Planet Rock cedo se aliou em Miami a faixas como Clear dos Cybotron de Juan Atkins. Estávamos em 1982/1983 e o mundo nunca mais seria o mesmo.
Esse som influenciou rapidamente o produtor “Pretty” Tony que vendo aí uma oportunidade, cedo começou a editar. Look Out Weekend por Debby Deb foi uma das suas primeiras produções, antes de editar os Freestylers, um grupo de Electro responsável pelo lançamento de outro sub-género, precisamente baptizado com o nome Freestyle (electro influenciado pela música latina dos clubes...).
Nesta época, Luke Skywalker (que haveria de apadrinhar e integrar-se nos 2 Live Crew...) era o gerente do Pac Jam (um daqueles clubes onde se dançava de patins...) onde muitos dos temas de "Pretty" Tony rodavam com insistência. Mas continuava a faltar-lhes qualquer coisa... Mr. Mixx, produtor e DJ dos então californianos 2 Live Crew, começou a mexer na 808 e descobriu que podia baixar ainda mais as freqüências... E a revolução explodiu! Luke não tardou em identificar um potencial nas produções de Mr Mixx e acabou por financiar o seu 12” Throw The D/Ghetto Bass, que seria bem mais recebido em Miami, obrigando o grupo então a imigrar para a Florida.

Aliando a música aos clubes de South Beach, onde praticamente ninguém se dava ao trabalho de trocar a roupa com que tinha passado o dia ao sol, o Miami Bass nasceu e criou fenómenos que cedo passaram as fronteiras da Florida. No final dos anos 80, e por um momento, quando os 2 Live Crew forçaram os censores a dar atenção a “As Nasty as They Wanna Be”, o mundo vibrou com os sub-graves exportados de Miami. E também soube unir-se para defender o direito de Luke celebrar os prazeres da carne de uma forma que muitos julgam primária. As batalhas foram ganhas, e o baixo de Miami infiltrou-se no mundo: Shake Your Rump dos Beastie Boys (que dedicaram um número inteiro da sua já defunta revista Grand Royal à Bass Music com um artigo de DJ Shadow sobre o género e tudo), Rump Shaker dos Wrexckx-N-Effect’s, Baby Got Back de Sir Mix a Lot, muito dancehall, algum drum n’ bass e 2 Step são hoje claros devedores das explorações ao coração das baixas freqüências efectuadas pelos pioneiros de Miami. E este género até encontrou na Alemanha um segundo mercado preferencial, com um circuito de festas, editoras, revistas e websites a suportarem a cena da Bass Music.

Nomes como Dynamix II, Magic Mike, DJ Battlecat, The Mix Crew, MC Ade, Maggotron, Speakerhead ou Missy Mist servem como referências para quem queira usar a net para procurar mais informações sobre o assunto. Mas não é fácil, uma vez que o verdadeiro Miami Bass continua confinado aos clubes menos turísticos de Miami.
A Mo Wax de James Lavelle deu alguma atenção ao Miami Bass através da edição de trabalhos de DJ Assault e DJ Magic Mike, dois dos mestres do género. A Booty Music, essa, continua forte em Miami, agora sub-dividida em muitos géneros, uns mais próximos do Techno, outros ainda retendo a sua ligação ao Hip Hop, mas todos apostados em “baixar” cada vez mais a fasquia dos sub-graves. Enquanto mulheres devidamente despidas abanam literalmente os traseiros com este som...
(versão original deste texto publicada em 2002 na Dance Club)

Discografia Miami Bass no Vinyl Vultures
História do Miami Bass