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HitdaBreakz

10/21/2004

JAKE ONE - BEATS DE SEATTLE NO ÁLBUM NOVO DOS DE LA SOUL




Jake One é um nome que está rapidamente a conquistar posições no competitivo mercado americano dos produtores de Hip Hop. Com temas produzidos para MC’s de renome como Encore, Gift Of Gab, Planet Asia, L'Roneous, Kardinal Offishall e Vast Aire (só este ano), Jake firmou o seu nome e colocou Seattle no mapa. Agora, Jake tem sido muito falado por causa do seu trabalho no último dos De La Soul, o grande The Grind Date. Jake One produziu aquele que deverá ser o próximo single dos De La depois de Shopping Bags (beat de Madlib). Falamos de Rock Co.Kane Flow, com a participação do grande MF Doom. Sobre este beat em particular – ou sobre a colaboração com os De La SoulJake One não revela nada de especial. Explica que o trabalho com os De la Soul é isso mesmo – trabalho! – e que aquele beat (que sampla Deliverance dos Space – a banda do clássico Magic Fly), com as mudanças de tempo inesperadas, saiu assim, naturalmente!

Jake passa muito tempo num fórum de Internet dedicado ao diggin’, por isso aproveitámos o facto para o contactar e trocar uns mails.

HdB – Jake, conta-nos um pouco do teu background, por favor.

Jake One – Nasci e fui criado em Seattle. Comecei a tentar fazer beats aos 16 num daqueles samplers de voz da Casio. Mas só em 1996 é que comecei mesmo a fazer beats. Alguns dos primeiros discos de Hip Hop de que me lembro são It’s Nasty, Feel The Heartbeat e Birthday Party. Mas penso que o tema Jam Master Jay dos Run DMC foi o que me convenceu a tornar-me DJ.

HdB – Como é que conseguiste que as tuas produções começassem a circular? Fazes muito trabalho de estúdio com os MC’s que usam os teus beats?

JO – Penso que se tu tens a sorte de vir de uma área tipo Nova Iorque ou Los Angeles, poderás ver a tua carreira arrancar quase por acaso. Eu sou de Seattle, por isso tive que fazer contactos por todo o lado. Passado algum tempo esses contactos começam a render e já podes mostrar o que vales. Igualmente importante foi o facto de ter tido diferentes managers que iam mostrando os meus beats nos mercados mais importantes.
Quando um MC usa o meu beat, na maior parte das vezes nem sequer estou presente quando gravam. Limito-me a enviar-lhes um CD com uma sessão de Pró-Tools aberta e eles fazem o resto!

HdB – Fazes beats com alguns MCs em mente ou produzes primeiro e depois acertas o som à medida do nome que escolher o beat?

JO – Eu funciono por fases. E posso entrar numa determinada fase durante ou mês, por exemplo. Nessa fase só vou fazer beats agressivos, depois mudo para algo diferente. Depois de fazer os beats começo a pensar que este MC ou aquele iriam soar bem neste beat específico. Quando envio CD’s com beats para alguns artistas tento escolher beats que eu acho que esse artista vai gostar, mas quando eles escolhem escolhem sempre beats que eu não estava à espera que escolhessem.

HdB – Como é que tem sido para ti em termos de tecnologia? Tens usado sempre as mesmas ferramentas ou foste comprando equipamento novo?

JO – Há dez anos usava um sampler da Emax. Conheci o Attic dos Grassroots e ele pôs-me a mexer no EPS 16+. Usei-o até para aí ao ano 2000 e depois comprei um ASR 10 (Ensoniq) que é uma versão melhorada do 16+. Comprei alguns teclados e módulos também. Em termos de técnicas, uso basicamente as mesmas desde que comecei. Só que tenho mais ferramentas à disposição e melhor controle.

HdB – Mencionaste que és de Seattle. Como é que foi a tua introdução ao mundo dos discos por aí? Havia muitos discos à tua volta quando estavas a crescer?

JO – Eu estava sempre a comprar os discos mais populares quando era pequeno. Maxis de hip hop também. O meu pai tinha uma boa colecção – jazz principalmente, mas com alguns bons discos de rock e funk. Lembro-me perfeitamente do meu pai me comprar o disco dos Sugarhill Gang porque me portei bem e não chorei no dentista, quando era bem pequeno.

HdB – Ainda te lembras do primeiro sample que descobriste num disco?

JO – O meu pai tinha-se mudado para o Hawai em 92 e eu visitei-o e já não me lembro bem como acabei por receber a compilação Funky People do James Brown. Aquilo impressionou-me imenso. Não fazia a mínima ideia de que todas as canções de hip hop vinham de discos antigos. A partir daí comecei a tentar encontrar todos os beats básicos.

HdB – E quão importante é o diggin’ para ti? Procuras tipos específicos de discos? Disseste que atravessas fases de produção, é o mesmo com o coleccionismo de discos?

JO – Foi o diggin’ que me fez. Não conheceria tantos estilos de música diferentes se não fosse pelo diggin’. É óbvio que, no que diz respeito aos discos que eu compro, eu evoluí ao longo dos anos. Neste momento estou completamente mergulhado na soul e no funk do início dos anos 80. Essa é a música de que eu me lembro quando era miúdo, por isso esse som tem um lugar especial reservado cá dentro.

HdB – No que ao diggin’ diz respeito, tu és pessoa para pagar dinheiro a sério por um disco que queiras muito ou és mais adepto dos “dollar bins”?

JO – Eu costumava ser um comprador exclusivo dos “dollar bins”, mas agora o preço não é importante. Deixei muitos discos fantásticos nas lojas quando comecei nisto porque não tinha 50 dólares para gastar num disco. Agora se for algo que eu quero mesmo muito, compro-o e pronto!

HdB - Seattle é uma boa cidade para o diggin’? O Mr Supreme (lenda do diggin’) é de Seattle. Vocês cruzaram-se alguma vez?

JO – O Supreme foi o tipo que me ensinou as bases no que ao diggin’ e à produção diz respeito. Conheci-o quando tinha 19 anos e ele, por alguma razão, resolveu apadrinhar-me. Costumávamos encontrar alguns discos bem loucos em 95-97. Aqui em Seattle era normal descobrir grandes discos muito baratos. E foi para a Conception, a label do Supreme, que eu produzi as primeiras coisas.

HdB – Voltando à produção: tens alguns planos para editar o teu próprio álbum? Já escolheste alguns MC’s?

JO – Sim e é algo que deverei fazer relativamente rápido. Trabalharei, quase de certeza, com tipos com quem tenho relações estreitas de amizade. Tipos como o Gift of Gab, o Encore, o Kardinal e assim.

HdB – Editarias um álbum instrumental? Ou achas que um beat só está realmente completo quando tem um MC a rimar em cima?

JO - Fiz um álbum de beats na Fat Beats chamado Tale of the tape o ano passado. Era mais uma colecção de beats em vinil do que propriamente um álbum de Hip Hop instrumental. Eu gosto de ouvir MC’s em cima das minhas produções.


HdB – Há algum tipo de música em que tu não tocas no que ao sampling diz respeito?

JO - Não. Nunca se sabe o que é que vamos pousar no prato e nos vai surpreender. O que quer que funcione para mim está bem.
HdB – Para terminar, o Dr Dre está a trabalhar com o Burt Bacharach nalguns temas. Com que glória do passado gostarias tu de trabalhar?

JO – Essa é difícil. Provavelmente com o Curtis Mayfield se ele ainda estivesse vivo. Gostava de me poder apenas sentar numa das sessões dele e perceber como é que ele conseguia aquele som!


E aqui fica - para quem se despachar (7 dias, 25 downloads) - o grande Rock Co.Kane Flow dos De la Soul produzido por Jake One.