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HitdaBreakz

9/25/2004

SWAP MEET? ANYBODY...?


Na última semana, enquanto o computador se encontrava a ser reparado, dei umas voltas e apanhei alguns discos, em diferentes locais. As colheitas não têm sido primorosas e, na verdade, os discos que abaixo vão poder ver são já uma selecção destes 10 dias de diggin', uma vez que a escassez nos faz às vezes baixar a fasquia e o resultado é que a caixa das inutilidades tem aumentado de tamanho. De qualquer maneira, não me posso queixar assim tanto como isso. Ainda vão aparecendo alguns discos que valem a pena. Entre trocas (e, por falar em trocas, se puderem leiam o PS abaixo deste post), Cash Converters e Feiras de Velharias, isto foi o que se aproveitou realmente nas duas últimas semanas. Não é brilhante, mas também duvido que outros diggers possam dizer que as coisas têm andado brilhantes. Nos últimos tempos até dá a impressão de que fomos invadidos por um exército invisível de diggers japoneses que limparam tudo o que havia para limpar... Pode ser que a chegada do Outono traga dias melhores, nomeadamente nas feiras que têm andado muito fraquinhas.


Winston Reedy - Everyday I Write The Book (12", Priority, 1986)

O que me chamou a atenção neste disco foi o nome de Jackie Mittoo, aqui creditado como produtor. O disco é muito tardio para conter riddims mais roots, mas acabou por cumprir o que dele esperava: um muito bom tema de Lovers Rock, com direito a uma version e tudo!


Shinehead - Chain Gang Rap (12", Elektra, 1988)

Shinehead foi praticamente o único responsável por manter acesa a chama das sonoridades jamaicanas na Nova Iorque da segunda metade dos anos 80. Tendo dito isso, e curiosamente, ou talvez não se tivermos em conta a ficha técnica que credita Jam Master Jay (o DJ dos Run DMC) na produção, este é um disco de Hip Hop e não de dancehall, onde Shinehead despe a sua pele de toaster e veste a de rapper. È um disco competente e curioso. Não esquecer a data, obviamente!


Sanchez – Number One (LP, Ras Records, 1989)

Aqui sim, está um disco bem mais hardcore, no que ao dancehall diz respeito. Sanchez teve um êxito assinalável na Jamaica e no Reino Unido em finais dos anos 80 e o seu único problema deverá ter sido o facto de ser um artista algo indeciso entre o dancehall mais rough e o Lovers Rock mais meloso. Ainda assim, Number One é um belíssimo LP, com alguns dubs de alguns temas e riddims datados, mas extremamente eficazes. Alguém anda a largar a sua colecção de maxis e LPs dos anos 80 nalgumas Cash Converters e, a julgar por alguns dos discos que tenho arranjado, a pessoa em questão não deve ter sido muito má atrás dos pratos, pelo menos no que à qualidade da música tocada diz respeito.


Trouble Funk – Drop The Bomb (LP, Sugarhill Records, 1982)

Este veio numa troca e é uma preciosidade. No início da história do Hip Hop, com as regras ainda por definir, tudo cabia dentro do mesmo saco: o proto gira-disquismo de Grandmaster Flash, o electro de Afrika Bambaataa, o punk funk dos Liquid Liquid e ESG e, claro, o Go-Go dos Trouble Funk. Este género de Funk energético, quase sempre executado ao vivo, com uma ênfase bastante acentuada nas imensas secções de percussão e nos breakdowns extensos tornaram o género Go-Go de Washington DC obrigatório para todos os B-Boys. Este álbum dos Trouble Funk foi o primeiro do género Go-Go a ser editado fora de Washington, precisamente pela Sugarhill que tão envolvida esteve com o Hip Hop dos primórdios. E é, como o título indica, uma bomba.!


Skinny Boys - Skinny (They Can't Get Enough) (LP, Jive, 1988)

Tenho que confessar que a época 88-93, quando os samplers inundaram o Hip Hop, é talvez a minha preferida na história do Hip Hop, a melhor fase da chamada Golden Age que gerou pérolas hoje perdidas como estes Skinny Boys. tenho que confessar que se fosse pela capa apenas teria tido muitas dúvidas e se calhar este disco até teria ficado pela Cash Converters, mas o nome de Flavour Flav (Public Enemy) na ficha técnica convenceu-me a dar os 75 cêntimos que este disco custava. Em boa hora! Trata-se de um brilhante disco da época em que o Hip Hop ainda nadava numa imensa inocência, musicalmente falando, e tudo era passível de ser samplado - funk dos anos 70 ou até mesmo pop dos anos 80. E os Skinny Boys, com a ajuda de tipos como Chuck Chill Out e Flavour Flav, assinaram aqui um óptimo disco, carregado de swings e grandes breaks, com uma enorme musicalidade, a fazer lembrar a espaços os próprios Public Enemy. Belo achado!


Intelligent Hoodlum - Black and Proud (12", A&M, 1990)

Incrível... o tipo - o tal DJ que vendeu os discos na Cash Converters - devia ser mesmo bom: um maxi de Intelligent Hoodlum de 90? Isto é um verdadeiro clássico, ainda por cima com produção do mestre Marley Marl. Hoodlum é hoje conhecido como Tragedy Khadafi, mas começou por fazer figura na cena Hip Hop quando surgiu com um rap inteligente, afrocêntrico e informado, graças ao facto de ter passado uns tempos em Rikers Island, aproveitando para estudar os ensinamentos de grandes líderes e pensadores negros. Este maxi é um bom exemplo de como as coisas começavam a mudar em inícios da década de 90. De certa forma, Hoodlum foi precursor de muito do "backpack hip hop" que surgiu em meados dos anos 90.


Grupo Irakere - s/título (LP, Areito, s/data)

Edição original cubana? Por 2 Euros? Claro que sim... aliás, este foi o único álbum de jeito que arranjei nas últimas visitas às feiras do concelho de Oeiras. Mas dada a qualidade do disco - em mint condition ainda por cima, até que acaba por compensar o deserto de aquisições dos últimos tempos. O grupo de Chucho Valdés e Arturo Sandoval, que teve problemas com o regime cubano e que viu alguns dos seus membros fugirem e pedirem asilo político fora de Cuba, foi responsável por fazer o "son" evoluir e cruzar-se com algum do jazz mais progressivo e livre do seu tempo. Este álbum, a julgar pela sonoridade de alguns dos temas, deve datar de meados dos anos 70 e é um portentoso exemplo de cruzamento de son, jazz e funk, com alguns moogs a protagonizarem momentos de aproximação às estrelas. Brilhante!


Ravi Shankar - At The Woodstock Festival (LP, UA, 1970)

Outro disco vindo de uma troca, como aliás todos os seguintes. Para aqueles momentos em que acender um pau de incenso é o melhor remédio do mundo!


Bob James - Stereo Laboratory (LP, CTI Japão, 1976)

Edição japonesa que reúne temas de Three e Four, este álbum do ultra samplado Bob James (intimamente ligado ao Hip Hop por causa de dois breaks clássicos retirados de One e Two, os seus dois primeiros álbuns como líder: falo, claro, de Nautilus e Take me To The Mardi Gras...) inclui belíssimos temas como Westchester Lady, um mega-clássico samplado por toda a gente (de Adam F no clássico Circle aos Massive Attack em Unfinished Simphony) ou Tappan Zee (samplado, por exemplo, por Common). O interessante aqui, além do jazz funk de Bob james, claro, é a qualidade da prensagem!


Paul Horn - Inside II (LP, Epic, 1972)

Outro disco para os momentos de incenso. Aqui o flautista Paul Horn assina uma série de contemplativos temas em que regista algumas experiências curiosas, como a tentativa de criar diálogos musicais com golfinhos e orcas. O facto do National Film Board of Canada (a instituição que produzia documentários que deu nome aos Boards of Canada!) estar envolvido no financiamento deste disco dá-lhe uma aura ainda mais hippie. Já não se tratava apenas de salvar as baleias. Havia que dar-lhes música também...!



Robin Kenyatta - Beggars and Stealers (LP, Muse Records, 1977)

Curioso, o facto deste disco estar autografado pelo saxofonista. Mas, aparentemente, o senhor Otto a quem Robin Kenyatta dedicou esta cópia não quis ficar com ela para o resto da vida. E hoje o disco está em Portugal... O vinil dá voltas muito curiosas...
Belíssimo disco de jazz, com Larry Willis no piano, Walter Booker no baixo e Alphonse Mouzon na bateria a acompanharem o sax tenor do líder em três originais (do próprio Robin) e uma cover de Ruby My Dear de Monk. Jazz soul com aquele toque de espiritualismo típico da época. Bom disco!



Toshinori Kondo + IMA - Metal Position (LP, Jaro, 1986)
Toshinori Kondo + IMA - Human Market (LP, Jaro, 1989)


Tenho que confessra que se Toshinori Kondo nunca tivesse gravado com DJ Krush, provavelmente nunca teria tido curiosidade suficiente para procurar discos seus. Estes dois álbuns do trompetista podem colocar-se no mesmo campo explorado por gente como Bill Laswell, com um cruzamento de electrónica e jazz bem conseguido, a fazer lembrar os Material em certos momentos. Kondo foi sempre um músico aberto à experiência, por isso gravou com gente tão distinta como Peter Brotzmann, Sakamoto e os já citados Laswell e Krush. Consultem este site para mais informação.


Traffic - Mr Fantasy (LP, Island, 1968)

Bem, antes de mais nada, trata-se da reedição e não do original de Mr. fantasy, mas para abordagem exploratória aos Traffic de Steve Winwood, Jim Capaldi, Chris Wood e Dave Mason esta edição chega perfeitamente. A menção na ficha técnica de instrumentos como o cravo, orgão, sopros vários, percussões exóticas, melotrons e sítaras não deixa margem para erros: estamos perante um disco de psych, inspirado pelo "countryside" inglês e carregado de grandes canções, como o clássico "Dear Mr Fantasy". Depois de ter ouvido este disco uma só vez fico com a sensação de que há mais para explorar nos Traffic e nas carreiras individuais dos seus membros.

E é tudo, por hoje, amanhã há feira em Algés e espero que os ventos de mudança já lá tenham chegado. Entretanto, fica aqui uma ideia, em jeito de post scriptum!

PS: Quem anda nestas coisas do diggin' acaba sempre por acumular discos repetidos ou discos que não quer. Lá fora, quando as comunidades de diggers existem, é comum organizar-se aquilo a que se chama "Swap Meets", basicamente encontros entre pessoas com o mesmo interesse pelos discos onde se ouve um pouco de música, se discutem ideias e fazem trocas. Aqui no Hit da Breakz queremos começar a sondar a meia dúzia de gatos pingados que nos lê (ok, vocês não são gatos, nem sequer estão pingados, mas têm que concordar que são apenas meia-dúzia...) sobre a possibilidade organizarmos a primeira grande Swap Meet Hit da Breakz. Que acham? Manifestem-se via comentários, por favor! E obrigado!