<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

9/11/2004

BREAK DA SEMANATM : INCREDIBLE BONGO BAND - APACHE




O hiphop tem determinados momentos que o definem, que o ajudam a explicar enquanto género musical. Não são muitos, principalmente assim como estes, tão explícitos. Mas este break é um monumento às origens do hiphop. Dizia Kool Herc (o pioneiro dj jamaicano que, com o seu soundsystem e com o som que debitava dele, é apontado como o pai do género) que "a música que começou com esta coisa toda do breakbeat foi o Apache". Mas isto, apesar de ser suficiente para perceber a importância do Apache, não explica, por si só, tudo o resto que envolve o tema.

Por isso, vamos a um pouco de passado. E a história começa, curiosamente, no Reino Unido. É no Reino Unido que um grupo de jovens de uma banda chamada Shadows estava à beira de um ataque de nervos - todos os seus três singles foram um verdadeiro fracasso e a banda deparava-se com a pressão de um hit para que o contrato a curto prazo com a editora se tornasse em algo de mais substancial. No entanto, não eram perfeitos desconhecidos na cena inglesa já que eram a banda suporte de Cliff Richards, que, na altura, já gozava de algum sucesso nos charts ingleses. O contrato de que falamos era apenas e só para os Shadows enquanto banda instrumental, sem vocalista, e eram esses singles que, teimosamente, se mantinham nos postos menos elevados da tabela. É nesta altura que surge Jerry Lordan, um compositor de algum sucesso, que lhes entrega um tema que tinha criado para uma banda sonora de um western, tema esse que, apesar de ter sido gravado, nunca foi editado. E assim, os Shadows gravam o tema e estão prontos a o edtiar como lado B do seu 4º e, provavelmente, último single enquanto apenas Shadows. Mas, e como o destino tem destas coisas, a história do Apache poderia ter sido outra caso o Apache tivesse saído como lado B e provavelmente, não estaríamos a falar dele. É que todos nós sabemos o que acontece aos lados Bs dos discos - não passam na rádio. Lá se ia esta base fundadora do hiphop desta para melhor e o próprio Apache dos Shadows poderia ter sido mais um disco perdido de uma banda que tentou chegar lá mas não conseguiu. Mas quis o destino que a filha de um executivo dissesse ao pai que preferia a música de Lordan à música que estava no lado A. "Lado A, então" e o disco foi editado.

Só a título de curiosidade, um posterior baterista dos Shadows foi nem mais nem menos do que Brian Bennett. Sim, o Brian Bennett da library music, de editoras como a KPM (Great Expectations, Drama Suite ou Drama, entre outros) ou da Bruton (Drama Montage, Dramatic Action, Industry, entre outros).
O single fez o resto. Aquele som característico da stratocaster e do tambor índio (que, curiosamente, nem sequer é índio, é chinês) entraram nos ouvidos das pessoas para nunca mais de lá sairem. E com ele, os Shadows marcaram, para sempre, o seu cunho na história discográfica mundial de tal maneira que, como é costume nestas coisas, aparecem constantemente versões do tema. É aqui que entra Michael Viner.

Michael Viner era um A&R bastante importante da MGM, já que tinha sido ele a assinar os Osmonds e o Sammy Davis Jr., e que dirigia também uma sua subeditora sem grande interesse, chamada Pride

Na Pride, os outros álbuns que interessam, para além deste da Incredible Bongo Band, são o álbum dos Sylvers, conhecido por conter samples usados nos dois melhores temas do RJD2, antes de ele andar armado no que anda armado agora (sim, adoro o RJD2...), o Here's what's left e o June, e o álbum do puto Foster Sylvers, que contém o tema Misdemeanor [audio], usado, entre outros, mas porque é onde o gosto mais de ouvir, no tema do The D.O.C. Is it funky enough.
Uma das suas funções na MGM era também a parte das bandas sonoras para filmes e foi através de um filme de 2a linha chamado "The thing with two heads", filme em que também participou, que surgiu a oportunidade de editar uns temas de uma banda que Viner tinha formado. Essa banda era a Incredible Bongo Band, uma banda que gravava os seus temas quando os estúdios da MGM não estavam ocupados com outras coisas, quase na brincadeira. No entanto, não eram músicos de brincadeira que tocavam nela (o que ajuda a explicar a excelência dos temas que podemos encontrar nos dois álbuns da banda, o Bongo Rock e o Return of the Incredible Bongo Band), porque nesta banda a brincar tocavam músicos a sério. Músicos como o King Errison, o Jim Gordon (dos Traffic), a Freda Payne ou até, segundo dizem, o Beatle Ringo Starr.

A função da Incredible Bongo Band era simples: pegavam em temas extremamente conhecidos do grande público e faziam versões com um enfático realçar da percussão. Fizeram isso com o In-a-gadda-da-vida dos Iron Butterfly, por exemplo, ou com o I can't get no satisfaction dos Rolling Stones. E o tema dos Shadows entrava que nem manteiga neste plano porque, para além de ser muito conhecido, tinha já, por si, um grande enfoque na percussão. O que a Incredible Bongo Band fez ao tema foi pegar na percussão original do Apache e trabalhá-lo ainda mais.

Estando o disco na rua, não demorou muito a que djs como o Kool Herc considerassem aquele pedaço do Apache da Incredible Bongo Band um break, como os outros, capaz de ser usado nas block parties para fazer as pessoas dançarem. O que provavelmente não esperavam era a louca reacção das pessoas ao break, a toda aquela surpresa de ouvir algo tão tão conhecido para toda a gente, como é o Apache, numa versão diferente e tão intensa. Não tenho dúvidas que surpresa foi também o que atingiu Michael Viner, quando se apercebeu da importância do que tinha feito. Porque aposto que Viner nunca esperou que uma versão da sua Incredible Bongo Band de um tema dos Shadows fosse uma das vértebras de um género musical tão importante para a música como é o hiphop.

BREAK DA SEMANATM : The Incredible Bongo Band - Apache [audio]