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HitdaBreakz

8/12/2004

ORIGINAL VS REEDIÇÃO


Muitas vezes sou confrontado com a seguinte frase: "Oh Dub, porque é que tentas arranjar originais se há reedições?". É uma questão aparentemente simples mas que se torna muito complexa, se a separarmos em todos os seus elementos.

O diggin', a maior parte das vezes, é tentar encontrar discos originais a preços baratos. Geralmente conseguimos verdadeiros milagres nas lojas, comprando discos que a preços de mercado valem 20, 30 contos (100, 150 euros, pronto) por 1, 2 euros. O exemplo mais recente que tenho é do single de italo dos B.W.H., que comprei numa loja de coisas em segunda mão pela módica quantia de 0.50 cêntimos, em excelente estado (novo!, nem sequer estava maltratado como é costume os singles de música de dança dos anos 80 estarem, após uso e abuso por parte dos djs - como o digga referiu no post mais abaixo). O disco, que me custou 0.50 cêntimos, custar-me-ia 100 euros se o comprasse numa loja da especialidade. Isto se o tivessem à venda, claro, o que nunca acontece, tão escasso que é o disco. Foi sorte!

Mas divago. Estava a dizer que o diggin' é tentar encontrar discos originais a preços baratos. Porquê originais? Porque é raríssimo encontrar reedições nos escaparates de lojas em 2a mão, que são o terreno de eleição dos diggers. As reedições limpinhas e bonitinhas encontramo-las nas lojas de música. E encontramos aqui uma das respostas para a pergunta inicial: porque é que eu vou dar 20 euros por uma reedição em CD quando posso ter o original em vinil por 1 euro?

Bastava a razão económica para calar a inquisição mas a música é mais do que o dinheiro que a pode comprar. Até porque há muita coisa que não aparece nas lojas em 2a mão, principalmente discos mais obscuros que raramente aparecem nos seus países de origem, quanto mais em Portugal. Onde é que em Portugal vou encontrar um Bwana, por exemplo? (vai ser o BREAK DA SEMANATM por isso estejam atentos a este verdadeiro holy grail do digging). Ou um Peace & Love, um disco que mistura rock psicadélico, algum funk e tudo com um sabor verdadeiramente mexicano? Se nem os discos mais banais costumam aparecer, quanto mais estas raridades?



Assim, para ter estes discos comigo, terei de os comprar em vinil original já que nem um nem outro se encontra reeditado para o mercado português - acaba aqui a conversa do original vs reedição, tem mesmo de ser original. E entre mandar vir de fora um disco original ou um disco reeditado, acho que é do interesse de todos mandar vir um disco original. Mas será que podemos sempre escolher?

Voltamos novamente ao lado económico da questão: será que o preço dos originais ou das reedições é sempre favorável aos originais? Faz algum sentido, económico ou racional, pagar mais por algo usado do que por algo novo quando ambos produzem exactamente o mesmo resultado - o mesmo som?

A resposta para a primeira pergunta é "não". Há originais (e é esta a norma) que são mais (mas muito mais) caros do que as reedições. E isto explica-se facilmente: só faz sentido reeditar algo que as pessoas não tenham, nunca algo que as pessoas consigam comprar facilmente. Não faz sentido reeditar discos que venderam milhões de cópias (apesar de haver reedições do Rapper's delight dos Sugarhill Gang mas são excepções).

Vamos dar como exemplo um disco que foi reeditado recentemente : o Fohhoh Bohob dos Patron Saints.



É um dos discos mais raros de todo o rock psicadélico - só foram produzidas 100 cópias, em 1969, deste disco, gravado na sala de estar dos pais de um dos elementos. É um disco que não tinha pretensões nenhumas a ser o que é: um monstro do rock psicadélico, não só pela sua originalidade mas também pela sua ingenuidade. Nenhum dos moços da banda sonhava um dia que o seu disco iria trocar de mãos por valores a aproximar os 3000 dólares (600 contos), no entanto, se não aparecer, num golpe de sorte inacreditável, numa qualquer loja em 2a mão que não faça a menor ideia do que aquilo é, o preço do disco é mesmo esse: 3000 dólares.

Eu não tenho 3000 dólares para dar por um disco. 3000 dólares é muito dinheiro. No entanto, há muita gente que troca facilmente esse dinheiro para ter em casa um disco destes. E convenhamos, é quase como comprar um quadro só que em vez de darmos valor às paisagens ou ao traço, damos valor ao som. Mas dar 3000 dólares por um quadro de um pintor (e por 3000 dólares não é assim tão tão importante) não é insultuoso enquanto que se disser que dei 3000 dólares por um dos 100 discos mais importantes do rock psicadélico, cai o Carmo e a Trindade e a Sé Velha em Coimbra ao mesmo tempo. Ou seja, é tudo relativo. Relativo à carteira, relativo ao interesse que temos no disco, é tudo relativo. Mas por muito relativo que seja, neste momento, não consigo relativizar 3000 dólares para fora da minha conta bancária. Mas gostava de ter o disco. Como resolvo este dilema? Com reedições.

Com as reedições a terem cada vez melhor qualidade, e como aconteceu no caso da reedição do Fohhoh Bohob, apadrinhadas que são pelos artistas originais, que fornecem as masters para serem trabalhadas digitalmente, que acrescentam músicas originais nunca antes publicadas, que acrescentam booklets espantosos com informação preciosa dada pelos membros das bandas, a velha questão do "original vs reedição" está lentamente a transformar-se numa outra questão bem bem diferente. É que, com esta crescente qualidade nas reedições, o que provavelmente vai acontecer é que as reedições vão ser tão importantes como os originais e não seus substitutos.