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HitdaBreakz

8/27/2004

A FONTE IR ATÉ VOCÊS


Num post mais abaixo, o digga diz uma grande verdade: "não se esqueçam de onde vivem" - Portugal. E é uma grande verdade quando a aplicamos ao diggin'. É que o facto de termos vivido fechados sobre nós próprios durante tanto tempo em anos em que a música deu o grande salto noutros países, fez com que muitos dos discos lá de fora não chegassem a nós. E isto ainda é mais verdade quando olhamos para a soul, para o funk, para o hiphop e para tantos outros estilos que foram e ainda hoje são ignorados (mas cada vez menos, à medida que vamos reorientando as nossas balizas auditivas para estes estilos e, também, à medida que temos acesso cada vez maior a estes tipos de sons, seja nos jornais, revistas, seja nas rádios, nas televisões como a MTV, na publicidade - quem não se lembra do Express Yourself da Watts 103rd Band, grande banda de funk, num anúncio de gelados - e, principalmente, nas editoras, no caso do hiphop, em Portugal, como a Loop ou a Matarroa).

E em que é que este antigo desinteresse nestes estilos tão caros ao diggin' afectam esta nossa busca musical? Em vários campos e vão ver como são tão importantes.

Primeiro, o desinteresse manifesta-se na falta de discos de funk e de soul ou mesmo de jazz em lojas de segunda mão. É natural que muita gente, no início dos anos 80 e com o advento do maravilhoso compact disc, se desfizesse dos vinis, acreditando num "admirável mundo novo", e isso teria reflexos nas lojas de discos em 2a mão. Ou nem precisamos de ir tão longe, basta que haja necessidade de fazer espaço para um novo bebé, para arranjar espaço, sei lá, para limpar a casa e lá vão os vinis para o lixo. É comum isto acontecer e é este o ciclo normal do vinil que encontramos nas lojas em 2a mão. Mas o vinil que encontramos raramente é funk ou soul ou hiphop ou outra coisa qualquer que não seja Top 10, Tops of the pops e discos da Eurovisão (que até valem dinheiro mas que raramente valem musicalmente).

Em segundo lugar, o desinteresse manifesta-se na quase completa ausência de bandas de funk ou de soul portuguesas. Era normal, como aconteceu no rock, que, ao ouvirmos discos de que gostamos e tivéssemos o bichinho da música, houvesse vontade de fazer algo parecido. Assim, se houvesse grande interesse pelo funk ou pela soul, teriam havido, em Portugal, algumas bandas de funk ou de soul. Atenção, isto não pretende ser a "última palavra" na questão - há muito na discografia portuguesa da altura para ser (re)descoberto e há muito trabalho a fazer para desenterrar todas as pérolas portuguesas ainda escondidas e é este o trabalho que os diggers portugueses têm que ajudar a fazer.

Mas enquanto não descobrimos os tais discos portugueses de funk ou de soul perdidos nos anos 60 e 70 (somos tão optimistas aqui nós, não somos?), para saciar esta sede, temos que os ir buscar a outro lado. Como sabemos, há duas maneiras de ir buscar estes discos: indo à fonte ou a fonte ir até vocês. Ir à fonte é o sonho de qualquer digger mas nem sempre é possível. Por isso, e como estão a ler este blog, têm acesso imediato à segunda resposta: a internet. E é disso que este post trata: dos sítios aonde ir buscar esses tais discos online.

Há uma grande divisão entre os diggers sobre comprar discos online ou, como lhe chamam, fazer e-digging. Dizem os fundamentalistas que "fazer digging é ficares com as mãos sujas, é tocares nos discos, não é usares paypal para pagares por algo que só recebes dentro de uma semana". Mas os fundamentalistas costumam ser tipos que têm acesso (fácil ou difícil) a discos de soul ou de funk, por exemplo. Nós, aqui em Portugal, não temos grande acesso a discos destas áreas editados por majors e o acesso a discos de edição local, como é comum existir nos EUA, é quase igual a zero. Por isso, a minha posição relativamente ao e-digging é favorável.

Vou meter aqui alguns sites que vos dão dar algum trabalho dado o extenso conteúdo musical que cada um deles tem.



ebay.com

É a fonte das fontes : aqui, encontramos todos os discos que alguma vez desejámos. A ebay é um site de leilões online onde os discos são postos à venda até uma hora e data específica e qualquer pessoa registada na ebay pode licitar o disco até um determinado valor. No fim do leilão, quem der mais pelo disco, fica com ele. Neste preciso momento, existem 150283 discos de vinil na ebay à venda - um número estupendo. A maioria das boas lojas de discos tem, agora, o hábito de guardar para a ebay os seus melhores discos em vez de os meter à venda nas suas lojas físicas, na expectativa de que o preço suba com o maior número de compradores que a internet proporciona. Mas o que para eles é vantagem, para nós, compradores, nem por isso. Assim, a ebay e o próprio sistema de leilões, aliado à ausência de um preço fixo para os discos em 2a mão, faz com que, muitas das vezes, os discos incríveis que queremos desde sempre ter atinjam preços impraticáveis para as nossas bolsas. Por isso, tenham atenção aos preços e tenham uma certeza: são raros os discos que não aparecem outra vez num futuro muito próximo. E outra regra de ouro, se o outro licitador com quem vocês estão a competir para comprar o disco em leilão tiver um nome parecido com Shinjiro, Kazumi ou Onaguchi, quer dizer que é japonês e isso geralmente quer dizer "fundos ilimitados", por isso, deixem o disco ir para o Japão e tentem apanhar o próximo.



GEMM

A GEMM é um site que, como a ebay, agrupa imensos vendedores diferentes e os põe em contacto com compradores de todo o mundo. No entanto, a grande diferença entre a GEMM e a ebay está na maneira como o preço do disco é determinado. Enquanto que, na ebay, o preço a pagar é determinado pelo leilão do disco, onde o comprador que der mais pelo disco, fica com ele; na GEMM, o disco é vendido pelo preço que está pré-determinado. Tenham é cuidado, a GEMM é daqueles sítios onde alguns vendedores, sabendo do exorbitante preço atingido por alguns discos na ebay, tentam meter o preço pré-determinado a um valor muito acima do justo, à espera que alguém o compre, tipo isca. Mas há mais! A GEMM deve ser dos sítios onde há maior disparidade de preços em relação a um mesmo disco. É que, sendo o disco a maior parte das vezes um disco em 2a mão, o preço é difícil de ser determinado. Por isso, há discos que são lixo para uns e obrasprimas para outros, e isso reflecte-se no preço. E é isso que me chateia um bocado na GEMM, esta enorme disparidade de preços que nos obriga a andar com constante atenção em relação ao que vamos pagar. Aproveitem a GEMM e transformem este inconveniente numa vantagem, como eu tenho tentado fazer: o dobro da atenção necessário para comprar na GEMM faz com que encontre por lá coisas incríveis, que de outra forma me teriam passado ao lado, a preços estupidamente baratos.



Dustygroove

Uma excelente loja de discos e CDs. Especializou-se em soul, funk e jazz nos discos em 2a mão mas não descura outros estilos - a sua colecção de discos brazileiros nem é má. Tem uma excelente selecção e costuma ter todos os clássicos do estilo, seja em vinil seja em CD. O grande inconveninente desta loja é o facto de ter discos em 2a mão e discos novos (reedições) todos misturados. Por isso, tenham cuidado a comprar e vejam se estão a comprar um disco reeditado ou um original em vinil. Tem outro inconveniente para quem vive em Portugal: usam sempre a UPS e isto, como sabem, implica que os custos para o envio dos discos é superior ao que seria se fosse usado os correios normais (US Postal lá, CTT cá). Desta forma, se encomendarem algo de lá, peçam um número decente de discos para que façam os custos de envio render. Ah, já me esquecia. A grande grande vantagem da Dustygroove é o facto de ter relações privilegiadas com um determinado senhor cujo último nome é escocês e tem uma editora chamada Kilmarnock (trabalhem!). De vez em quando, aparecem discos originais de 1970 e tal em estado NOVO/FECHADO a preços incríveis (1/5 do que pagariam na ebay por eles, por exemplo) porque o Mac encontra caixas fechadas de discos dele na cave da sua casa e é à Dustygroove que saiu o brinde de ter de os vender. Mas estejam muito muito atentos! É que os stocks desses novos-velhos discos não duram mais do que 1-2 dias. Eu e o digga comprámos um dos nossos holy grails do Mac aqui e nestas condições que vos expliquei.



Turntablelab

O laboratório do prato (turntable) é exactamente isso, o sítio onde se arranja comida para a agulha, discos em vinil. Está mais orientada para o hiphop mas não descura outros estilos (como o house ou o reggae) e não foge à habitual secção de discos de funk e de soul (a maioria são reedições). Tem outra coisa óptima, que a Dustygroove, por exemplo, não tem, que é a capacidade para ouvirmos excerptos dos discos. Ou seja, temos o nosso ponto de escuta sempre em acção, o que ajuda quando temos discos em dúvida, principalmente discos de que nunca ouvimos falar. Outra coisa boa é o facto de as descrições serem divertidas e fáceis de compreender. No entanto, pecam pela pouca informação que dão a quem procura outro tipo de referências para além do básico "nome da faixa", "editora e ano de edição".