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HitdaBreakz

8/17/2004

DIGGIN' SPOTS: O SEGREDO É A ALMA DO NEGÓCIO



Num blog como o Hit da Breakz partilha-se muita informação, dão-se alguns pointers e, porque não dizê-lo, revelam-se alguns segredos. Significará isso que deveremos revelar todos os segredos? A verdade é que nesta cultura de coleccionismo específica há muito que o secretismo desempenha um papel importante.
Primeiro foram os selectahs jamaicanos (os equivalentes aos DJ's) a apagarem as rodelas dos seus singles importados dos Estados Unidos para que os operadores de Sound Systems rivais não descobrissem quais as suas armas secretas que melhor funcionavam na pista. Essa atitude foi depois reclamada pela nascente cultura Hip Hop naquela fase formativa em que o DJ valia não só pelos seus ainda incipientes skills, mas, sobretudo, pelos breaks exclusivos que tirava da sua crate para manter os B-Boys na pista. Gente como Afrika Bambaataa e Kool Herc trocavam as voltas aos espiões com uma série de truques como a remoção das etiquetas (usando água morna), colocação de autocolantes em cima das etiquetas ou, em casos extremos, utilização de capas e etiquetas falsas para certos discos importantes de forma a fornecer pistas erradas à concorrência.

Este secretismo pode parecer risível hoje - embora a cultura DJ em geral, e não apenas o Hip Hop, tenham herdado dessas atitudes primordiais algumas marcas... - mas há que entender que tanto no caso da cena jamaicana de Sound Systems como nas festas pioneiras do Bronx ao público não interessava tanto o culto da personalidade do DJ, como a música que saía das colunas. Um bom set arrancava aplausos. Um mau set colocava o DJ em maus lençóis.
Foi nessa época que o Diggin' - por alguns apontado como o 5º elemento do Hip Hop, depois do MCing, DJing, B-Boying e do Graffiti - tomou forma. Os aspirantes a um lugar no palco dos DJ's eram obrigados a fazer trabalho de casa e a gastarem horas incontáveis em caves de lojas ou em sotãos de familiares à procura não só dos breaks clássicos que garantiam sempre resultados, mas de novos breaks que lhes pudessem estabelecer o nome.
Claro que com o aparecimento dos primeiros samplers a cultura do Diggin' disparou. Os breaks deixaram de ser preocupação exclusiva dos DJ's e passaram a ser uma necessidade dos produtores. Até hoje. Claro que nesta nova realidade o secretismo e o carácter exclusivo de certos discos justificava-se ainda com maior intensidade. Já não se tratava de ser o único a ter determinado disco para agitar pessoas numa pista de dança, mas de ser o único a ter determinado break ou sample que pudesse transformar uma música num sucesso de vendas. E esse secretismo todo paga-se. Há histórias de dealers de discos nos Estados Unidos que, ao longo dos anos, se especializaram em fornecer DJ's e produtores de Hip Hop. E quando surge um disco de que nunca ninguém ouviu falar, mas que tem um break ou um sample enorme capaz de transformar um tema num grande sucesso há que pagar para o obter. Diz-se até que certos produtores de primeira linha pagavam não apenas para obter discos assim, mas igualmente para, caso outras cópias surgissem, que nenhum outro produtor o pudesse adquirir. Pelo menos durante algum tempo...

Claro que esta é a realidade americana: ultra-competitiva e onde um segredo tem um valor diferente por haver literalmente milhares de pessoas atrás de cada pedaço de informação. E não apenas "fellow diggers", mas também advogados e caçadores de direitos de autor variados.
Voltamos à pergunta inicial: deveremos nós aqui no Hit da Breakz divulgar todos os segredos? Muito bem, penso que a principal missão deste Blog é, como já expliquei, a partilha de alguma informação - discos que nos apaixonam, histórias curiosas, breaks históricos, etc... Mas isso não significa que estejamos prontos para revelar, por exemplo, os nossos spots secretos para o Diggin'. Já recebemos emails a perguntar coisas como "além das Cash Converters e da Feira da Ladra onde posso eu comprar discos?" Ser um digger significa também dar trabalho às sapatilhas, fazer alguma investigação de detective. Já encontrei alguns spots em Lisboa apenas por gostar de deambular por ruas desconhecidas. Há sempre uma casa de velharias, um antiquário ou um alfarrabista que nunca se tinha visto antes que tem por lá uns discos. Por isso, não me parece que, pelo menos para já, possam ler por aqui no Hit da Breakz listas exaustivas de locais priveligiados para a compra de discos. Mas a leitura atenta destes textos revelará pistas aos diggers mais devotos. Já por aqui falámos nas feiras do Concelho de Oeiras (Oeiras, Paço de Arcos e Algés, respectivamente no primeiro, terceiro e último domingo do mês). Há feiras de velharias noutros locais, como Belém ou a Parede. Fora de Lisboa há Setúbal, Azeitão, Coimbra. E para lá das feiras há uma rede imensa de lojas de inutilidades (o que os americanos chamam Thrift Stores) que vendem livros velhos, mobília antiga e louça usada que, num cantinho, têm sempre uma caixa com alguns discos. Eu conheço algumas dezenas de sítios assim. E descobri-os das mais variadas maneiras, mas sobretudo a explorar. Deixo aqui um desafio para que façam o mesmo.

Tendo dito tudo isto, fica aqui um Top 5 de Diggin' Spots para explorar:

01 - Feira de Velharias de Algés (último domingo do mês)
02 - Cash Converters de Benfica
03 - Discolecção (escadinhas do duque, lx)
04 - Feira de Velharias de Belém (primeiro domingo do mês)
05 - Remar de Campo de Ourique