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HitdaBreakz

8/21/2004

DIGGIN' EM LISBOA





Estes são alguns dos discos que encontrei numa sessão de diggin' (como se isto fossem sessões, tipo psicanálise...) que fiz com o digga, recentemente em Lisboa. O resultado nem pode ser considerado muito mau mas eu digo isso sempre que venho para casa com um James Brown debaixo do braço, principalmente quando não tinha o disco ainda. E é o caso deste álbum do James Brown, o The Popcorn, um dos seus melhores trabalhos instrumentais, típico do som dele do final dos anos 60, com grande ênfase nos sopros, mas, ao ouvirmos o In the middle, encontramos todas as características que qualquer disco do James Brown preserva. Este disco originalmente data de 1969 e foi editado pela King mas a versão que tenho é a europeia, editada pela Polydor e não faço a menor ideia quando foi editado para a Europa. Mas pela label e pelo aspecto do disco, diria meio dos anos 70, como se fosse um reintroduzir todo o som do James Brown a uma Europa desejosa de funk. Todo instrumental, o disco contém bastantes clássicos desta era do James Brown - casos do tema título, The Popcorn [audio] (versão instrumental do Mother Popcorn) ou o Soul Pride, aqui completo mas divido na label à boa maneira dos funk 45s na parte 1 e 2 (a parte 1 era o lado A do 45 rotações e a parte 2 era o lado B). Outro que está completo é o excelente In the middle [audio]. Para um digger, um disco instumental do James Brown é sempre sempre um disco para ter, por isso estejam atentos a este disco, que contém breaks, mas falar em breaks e em James Brown é quase um pleonasmo. Eu e o digger encontrámos dois, foi um para minha casa e a outra cópia foi para casa dele, por isso, este disco anda por aí.

Os dois Barry White são velhos conhecidos e fundamentais em qualquer colecção. O primeiro, o Rhapsody in White (20th Century Records, 1974), que é o que se encontra no canto superior esquerdo, contém um dos seus maiores clássicos, o Love's Theme. Mas o que a mim me dá especial prazer ouvir é o Midnight and you [audio], um dos meus grandes grandes temas do Barry White (que nem é escrito pelo Barry White mas pelo Gene Page). O outro que está a seguir é o Cant' get enough (20th Century Records, 1974), onde moram outros tantos clássicos barrywhiteanos como o You're the first, the last, my everything ou o Can't get enough of your love, babe. Se não conseguirem trautear logo estes dois temas, pelo menos, marquem 10 pontos no vosso cartão de tenho-de-ouvir-isto.

Na fila de cima falta-nos o T-Connection. É um disco de 1978, editado pela Dash, uma subeditora da TK, mais conhecida pelos numerosos 12 polegadas de disco que editaram. Nem por acaso, este T Connection, o segundo álbum da banda (o primeiro é o Magic), é disco puro, numa altura em que o disco estava ainda pujante de ideias. Deste disco, dois enormes temas (que, por acaso, o foram também nas listas de vendas, num raro momento de sincronia entre boa música e sucesso comercial) : o Saturday Night [audio] e o At Midnight, que abrem o lado B do disco.

O primeiro disco do lado esquerdo, da fila do meio, é um disco curioso, principalmente para quem se interessa por sons tipo library music. É um disco editado pela Kodak para servir de som ambiente para as projecções do Sound 8, aquela máquina que está na capa do disco. E funciona assim: se filmarem uma cena de família, tipo piquenique, então, enquanto o disco é projectado, passam a Music for Family Fun; se filmar uma cena na praia, o disco tem uma conveniente Music for Water Activites; e por aí fora. No final, tem ainda uns quantos efeitos de som (trânsito, palmas, cão a ladrar... coisas normais). Mas pronto, é para nos levar a um passado que nem está muito distante mas que parece bem distante.

Esqueçam o disco dos Martin Circus - é disco de péssima qualidade, feito de pormenores mas sem grande chama, principalmente para uma banda que fez o excelente (mesmo!) Disco Circus. O Ella Fitzgerald's Christmas é exactamente isso, um disco de Natal onde a diva torna tão especiais os tradicionais temas. Podia lá deixar um disco da Ella no sítio onde estava? O Burt Bacharach é um dos maiores compositores de todos os tempos e o Hal David um dos maiores fazedores de letras e juntos fizeram clássicos que todos conhecemos, mesmo que não saibamos que foram eles que os fizeram. Exemplo maior é o I say a little prayer, principalmente na versão da Aretha Franklin [audio] (raro exemplo de uma versão ser melhor que o original). Este Portrait in Time é um instrumental, com instrumentos a substituírem-se às vozes e contém quase todos grandes sucessos de Bacharach e Davis (A house is not a home, Say a little prayer, Raindrops keep fallin' on my head, Alfie, Do you know the way to San Jose, Sundance Kid). Um som tão calmo mas tão poderoso que entra em nós sem darmos conta, e quando damos conta, já estamos a trautear ou a abanar o pé devagarinho, mas sempre com uma sensação de bem estar, como só a música boa nos dá.

O disco dos I Pyranas é um disco de covers, editado pela RCA sem data mas deve ser lá para final dos 60s pelas covers que são feitas (Beatles, Moody Blues). O interessante do disco é ser tão tão ecléctico: tanto fazem uma cover do Obladi Oblada dos Beatles como o fabuloso Mercy, Mercy, Mercy do Joe Zawinul, de que falámos mais abaixo a propósito do David Axelrod e do Cannonball Adderley. O disco dos Tee Set é bonito pela capa, feio pelo disco. Evitem-no. Quanto ao disco do Ranieri (chamado Meditazione e editado na CBS, 1978), comprei-o não só pela capa que é bem bonita mas também porque tem um nome mágico: Eumir Deodato. Como o nome indica, Ranieri é um italiano que canta (em italiano) por cima dos temas compostos por Deodato e tem um som bastante calmo ao longo de todo o álbum. Sendo um disco do Deodato, o álbum não desilude e tem vários momentos de grande inspiração, quase a lembrar os grandes momentos do Prelude (CTI, 1972).

Por último, e não me vou alongar muito neste disco porque o digga vai, de certeza, falar desta colecção num post no futuro próximo, temos uma jóia: o número 2 da pioneira colecção Electro da Streetsounds UK. Neste número 2 temos apenas e só estes clássicos do electro dos anos 80, Al-Naafiysh (The Soul) pelo Hashim [audio], temos o Beat Bop do Rammelzee vs K-Rob [audio], do qual vos vou falar, logo a seguir à parte 2 do post sobre o David Axelrod, temos o White Lines do Grandmaster Flash e Melle Mel. Os outros temas são para encher chouriços? Longe disso que não há chouriços para encher nesta colecção de grande grande qualidade. Mas deixo a dica ao digga e esperemos que ele morda o isco - é que ele tem a colecção completa e pode falar sobre a Streetsounds Electro com outra propriedade.

nota : todos os links com a palavra [audio] à frente contêm um
pequeno sample em mp3 da música de que se está a falar nesse
link.