8/12/2004
BREAKS - PORQUE É QUE SÃO TÃO IMPORTANTES?
A pergunta que alguns de vocês podem estar a fazer é "Que raio é um break?". Um break é aqueles gloriosos segundos de um tema em que os instrumentos todos se calam para dar voz apenas e só à bateria e a quem está sentado atrás dela - o baterista. Resumindo, é um solo de bateria. Como devem saber, não é um momento que seja habitual em todas as músicas, por isso, encontrar uma música que contenha um break é sempre razão para felicidade.
"Mas felicidade porquê?". Por várias razões mas vou referir apenas as duas que acho que são as mais importantes.
A primeira razão tem a ver com a vertente do disc jockey (o dj). O dj, sabendo que um disco - chamemos-lhe o disco A - sabendo que o disco A tem um break, pode, tendo duas cópias do disco A, estender o break até ao infinito se quiser. Como? Mete o break a tocar num prato e depois, quando esse break acabar, mete a segunda cópia a tocar, com o break no seu início. Quando o break chegar ao fim na segunda cópia, toca a meter o mesmo break da primeira cópia (que entretanto foi "puxado" atrás até ao início do break) a tocar. E quando este acabar, volta a meter a segunda cópia outra vez a tocar... e assim sucessivamente. Isto visto ao vivo faz mais sentido pelo que vos encorajo a irem ver um dj de hiphop a actuar. É que, para além destes truques, os djs de hiphop são os djs que, em todos os estilos musicais, mais domínio têm sobre os pratos, fazendo truque atrás de truque atrás de truque (o que chamamos de turntablistas, do inglês turntable ou prato)
Porque razão só o break é prolongado? Não houve ninguém que se sentasse tipo Conselho de Ministros e decidisse que só os breaks seriam prolongados. Foi tudo uma questão de prática e de observação da realidade. Os djs pioneiros do hiphop, quando o hiphop ainda não se chamava hiphop - Kool Herc, Jazzy Jay, Grandmaster Flash - chegaram à conclusão, pela sua experiência enquanto djs, que as pessoas dançavam mais freneticamente quando os breaks tocavam. Só que, tendo os breaks a maioria das vezes, pouquíssimo tempo, rapidamente os outros instrumentos voltavam a encher a música e as pessoas (os bboys originais) ficavam com pena que o break tivesse acabado. Assim, os djs, através da técnica das duas cópias do mesmo break, prolongavam esse break durante mais tempo, permitindo que a dança acontecesse durante mais tempo também e, com ela, o prazer de quem dança. E tudo em tempo real, com uma manipulação manual dos discos e não, como hoje é possível, através de edits de computador ou, com estes novos processadores de efeitos, carregando apenas num botão.
A segunda razão para os breaks terem a importância que têm tem a ver com os produtores de música, com ênfase nos produtores de hiphop. Como disse antes, o break é um pedaço do tema em que só a bateria fala. Ora isto tem uma importância vital para quem sampla, para quem usa sons de outras músicas para criar uma música nova e original. Assim, para quem sampla o som das baterias, é importante que não esteja a tocar mais nenhum instrumento. A razão é simples: quando samplamos o som de uma bateria, pretendemos substituir, através do sample, um baterista. É como ter o baterista do James Brown em casa : se samplarmos o som da sua bateria, temos um dos melhores bateristas do mundo a tocar num disco nosso. E como só queremos o baterista e não o trompetista ou o baixista do James Brown, interessa que só tenhamos o som da bateria. É aqui que entra o break - permite que quem sampla consiga obter apenas o som da bateria.
Na foto em cima, podemos ver DJ Shadow com um disco no prato e com uma MPC 3000 (o rei dos samplers no hiphop - a sigla MPC esconde o nome MIDI Production Center - e é o aparelho que está por baixo da sua mão direita), pronto a transferir os sons de um break para a MPC. Se repararem, a MPC tem uma série de botões (os pads). Os pads são os 16 botões cinzentos que encontramos no centro da MPC, formando um quadrado de 4 botões cinzentos por 4 botões cinzentos. Poderão ver melhor os pads na foto em baixo (é uma MPC idêntica à que o DJ Shadow está a usar).
Quando o break é samplado, é possível ao produtor dividir o break em pedaços mais pequenos. Assim, sampla primeiro o bombo, depois a tarola, depois o hihat, depois o prato de choques, o címbalo e por aí fora. Depois, cada som é destinado a um botão, a um pad. E é desta forma que o produtor vai, através da MPC, poder "tocar" bateria. Toca no pad 1 e tem o bombo. Toca no pad 2 e tem a tarola. Agora mais rápido... pad 1, pad 2, pad 1, pad 1 , pad 2... e a sair pelas colunas temos : boom bap boom boom bap.