8/01/2004
5 FEVER BREAKS

Os 5 dias de febre, de afastamento de computadores e outras formas de ligação ao planeta, já chegaram ao fim. E para mostrar a recuperação proponho a audição de 5 grandes breaks que têm como particularidade o facto de virem incluídos em 5 belíssimos álbuns.

Ramsey Lewis - Sun Goddess
Este álbum é de 1974 o que significa que, por esta altura, o histórico líder do Ramsey Lewis Trio já era um veterano. Mas em vez do imaginativo e soulfull jazz dos álbuns da década anterior, aqui Lewis entrega-se de corpo e alma ao jazz funk mais libertário, deixando os pés em África e projectando a imaginação para os confins do cosmos.
Produzido por Maurice White dos Earth Wind & Fire, este álbum arranja espaço para a participação como músico do grande Charles Stepney em Hot Dawgit e no tema que dá título ao álbum. Ramsey Lewis, por seu lado, assegura alguns arranjos e entrega os seus dedos a sintetizadores como o Arp e a pianos como o Fender Rhodes ou o Wurlitzer, qualquer um capaz de gerar sons mágicos. O break, esse apanha-se a meio do tema Tambura (bastante reminiscente de Herbie Hancock), com diversas versões, incluindo uma com umas congas em ebulição!

Dr John - The Sun, Moon & Herbs
Grande, grande break, logo no início do lado 2. O baterista é John Boudreaux, um habitué das noites de New Orleans que gravou com gente como Professor Longhair e Allen Toussaint. O líder, Dr. John, é um místico e um visionário que usou a carreira para construir pontes entre os blues e a música crioula de New Orleans, o jazz e as marchas fúnebres, o rock and roll e o cajun dos pântanos.
Neste álbum de 71 cruza-se com os Memphis Horns, Eric Clapton e Mick Jagger. Mas é em Familiar Reality-Opening, o primeiro tema do lado B, que os ouvidos devem repousar mais tempo. Principalmente logo no arranque.

Les McCann - Talk to the People
Primeiro entra o break, bem sincopado e espaçado. E logo depois um clavinet suado e ácido que estabelece o ambiente para os próximos 9 minutos de North Carolina, o tema que abre o lado 2 de Talk to The People. Neste álbum de 1972, Les McCann, um cantor e pianista bem ligado ao pulsar das ruas, elevou a sua arte ao máximo, entregando-nos um álbum recheado de mensagem e groove. O lado 1 com uma belíssima versão de What's Going On de Marvin Gaye e, até à última espira do lado 2, este álbum revela uma viagem intensa de alguém que quis, de facto, chegar à fala com a sua gente. O último tema, que dá título ao álbum, esconde mais um grande break de bateria. Um álbum bem recheado, portanto!

Cannonball Adderley - Love, Sex and the Zodiac
Outro álbum de 74, quando o jazz ainda continuava às voltas com algumas das questões espirituais levantadas pelo Verão do Amor, uns anos antes. Rick Holmes escreveu e narrou os textos aqui incluídos que falam, como já devem ter adivinhado, de amor, sexo e do zodíaco por cima de um jazz bem swingante e com uns toques de funk que Cannonball Adderley executa com classe. A sessão conta com produção de David Axelrod (ler o que o Dub escreveu, mais abaixo) o que significa invariavelmente baterias bem altas, som espaçado, clareza de ideias. Os breaks chegam sob duas modalidades: com baixo em Introduction e com clavinet em Taurus. Em ambos os casos Roy McCurdy, o baterista de trabalho nesta sessão para a Fantasy, mostrou-se inspirado, batendo como um verdadeiro discípulo de Pretty Purdie!

Dennis Coffey - Hair & Thangs
Falar de breaks e deste álbum é um pouco complicado, por causa do excesso de momentos em que o baterista decide dar-nos um pouco da sua arte sem a rede dos restantes instrumentos. Quase todos os temas têm um pormenor ou outro, mas há breaks em Let the Sunshine In (dois para ser mais exacto), Aquarius, Iceberg's Thang, It's Your Thang e Do Your Thang... Beautiful Thang portanto: breaks à solta no mais funky, ácido, sujo e raro dos álbuns do guitarrista Dennis Coffey (o mesmo homem do clássico Scorpio) que, em parceria com Mike Theodore, assinou grandes produções. Mas isso fica para outro post! Boa caça.