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Break da Semana^TM : The Temptations - Ain't no sunshine/What it is

Os Temptations são um dos meus grupos favoritos da Motown. Na verdade, chamar "grupo" aos Temptations pode ser até um pouco abusivo porque, na verdade, como tantos outros nomes do império de Berry Gordy, também os Temptations eram, até certo ponto, uma criação de laboratório comandada pelo génio de Norman Whitfield.

E eram uma criação de laboratório, em primeiro lugar, porque a sua formação nunca foi muito estável (no álbum Solid Rock, de 1972, os grandes David Ruffin e Eddie Kendricks já tinham abandonado o "grupo) e, em segundo lugar, porque entre a produção de Norman Whitfield, os arranjos de gente como Paul Riser e as malhas executadas pelo famoso exército de músicos de sessão Funk Brothers (entre os quais se contava, nesta altura, Dennis Coffey, o home do grande break clássico Scorpio) pouco restava aos Temptations para deixarem a sua marca pessoal. Como aconteceu com outros grandes grupos vocais desta era clássica - como os Spinners, os O'Jays, os Four Tops ou os Isley Brothers - o trabalho reservado aos vocalistas não era tão limitado quanto isso: o poder das suas vozes ainda rendia tremendos dividendos, e basta ouvir a belíssima versão que assinaram para Ain't No Sunshine de Bill Withers (de onde extraímos um dos dois breaks de hoje) para se perceber isso mesmo. Mas a verdade é que o calculismo de Berry Gordy traduzido na sua famosa ideia de linha de montagem rendeu momentos extremamente grandiosos durante o período clássico da Motown. Exactamente porque isso também permitiu aos produtores, arranjadores e músicos de sessão terem espaço para experimentar novas soluções e criar, no processo, pequenas grandes revoluções musicais. E sem dúvida que pelo menos uma delas foi protagonizada por Norman Whitfield, o homem que mais consistentemente cruzou o psicadelismo do rock com o balanço da soul criando um híbrido que resultava em grandes mantras de groove, como era o caso da versão de Ain't no Sunshine gloriosa nos seus 7:10 ou do tema Stop the War Now (o Vietname continuava a matar gente nesta altura) que se estendia para lá dos 12 minutos. Se quiserem ler mais sobre Norman Whitfield, um tipo com um som tão particular que veria ser-lhe dado o seu próprio selo discográfico, de nome Whitfield Records, poderão começar por aqui. Um dia destes será a vez de Norman Whitfield ser alvo de um post alargado por aqui.

Mas voltemos ao álbum Solid Rock dos Temptations, datado de 1972. Este disco é um pouco uma manta de retalhos e daí recuperar o tema It's Summer de um álbum anterior dos Temptations, e abusar um pouco de versões, como é o caso do já referido Ain't no Sunshine e de The End of Our Road, gravado anteriormente por Marvin Gaye. Ainda assim, é um clássico absolutamente imprescindível. E, uma vez mais, os breaks que se encontram em dois dos temas do álbum, são um mero pretexto para a descoberta da grande música gerada por estas células de groove que orbitavam na Motown. Ainda em 1972, os Temps gravariam o enorme All Directions, o álbum do maravilhoso Papa Was a Rolling Stone.

The Temptations - Ain't no sunshine (áudio)

The Temptations - What it is (áudio)